EDITORIAL: Não basta estar no poder, é preciso entender sobre turismo receptivo

(Ou: a teimosia e gambiarra são inimigos do dinheiro público)

Querem saber de uma fala capaz de fazer muitos técnicos em turismo ficarem de cabelos brancos? É essa: ““Pódexá”, se faltar dinheiro do estado eu boto da prefeitura”!

Essa é a comprovação plena, irrefutável, da falta de conhecimento técnico, falta de acompanhamento dos projetos de obras para fomento do turismo, pouco ou nenhum cuidado na hora de nomear seu staff, geralmente estribado em meras promessas por ocasião de campanha política.

Muitas das vezes, o prefeito “rei da cocada preta” e dono das decisões finais, pois não gosta de ser contrariado; joga na lata do lixo grandes oportunidades de tornar sua cidade um autêntico município turístico ou, mesmo, elevar o índice de avaliação se já for uma Estância ou Município de Interesse Turístico do estado de São Paulo.

Um gestor, se é possível assim considerarmos por conta das atitudes pouco inteligentes no segmento do turismo receptivo, precisa ser e ir mais além de simplesmente estar atrás da principal mesa do paço municipal. É preciso ter discernimento sobre seu nome vir a ter espaço na história, bem diferentemente de apenas ser prefeito. A história das administrações sempre tem, pelo menos, duas faces: a do sucesso e a do fracasso.

Se o “pódexá” prevalecer, a segunda opção pode ser cravada no troféu dos incompetentes. Nem só de falas altas, teimosia e falta de uma equipe consolidada vive um gestor municipal.

Turismo Receptivo não é para aventureiros ou teimosos. Aceita, com muito louvor, ousados trabalhadores para a evolução econômica e social da cidade com a utilização da ferramenta nativa em todos os bons empreendimentos da iniciativa privada: criatividade com excelentes doses de cooperativismo, idealismo e pleno entendimento de todos precisarem ganhar, para a evolução acontecer.

Projetos, pesquisas, audiências públicas, desarmado entrosamento com os diversos setores da cadeia produtiva do turismo são indispensáveis para um município estar e ser de interesse turístico.

Afinal, o dinheiro do “pódexá” nada mais é do que a contribuição permanente dos consumidores dos serviços e produtos de uma comunidade. Então, querer abusar da contribuição é não gerir, ou melhor, é não estar enquadrado como bom administrador.

A era das gambiarras já ficou no século passado.

Atualmente, no estado de São Paulo, acontece uma grande expectativa pelo anúncio do ranking dos municípios turísticos já qualificados como Estâncias e MITs e sobre a possibilidade de aumento de vagas para ambas as categorias.

Ao todo, com a ampliação das vagas, poderemos ter 70 Estâncias (muitas delas serão novatas, de verdade) e 165 MITs (Municípios de Interesse Turístico). Compete à ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) a discussão e a resolução sobre esses novos números.

Para alcançar alguma das duas classificações os municípios candidatos precisam seguir um roteiro de muitas exigências, passando seus Planos Diretores de Turismo por uma equipe de técnicos altamente capacitados, além de terem sua avaliação pelas Comissões Permanentes da ALESP.

Objetivo principal de cada um desses municípios: ter como conquistar turistas para seus atrativos naturais ou formatados e virem a merecer o repasse de recursos rigorosamente fiscalizados / definidos pelo DADETUR (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos).

É o DADETUR que fiscaliza, orienta, mede, cobra, e define tudo sobre os recursos repassados com fundamentação em projetos aprovados pelo COMTUR (Conselho Municipal de Turismo) de cada cidade turística classificada.

Assim, o tal de “pódexá” não pode ser, realmente, bem assim. Precisa de discernimento, ordenamento, entendimento. Do contrário, obras podem ficar paradas ou, até, serem interditadas para a correta solução das incongruências.

Se você não gosta de gambiarras, siga o ordenamento das ações e do planejamento. A gambiarra não entende de planejamento e o dinheiro público não pode ter a etiqueta de “pódexá que resolvo”.

Em tempo: cargos de confiança, negociados politicamente, podem indicar o caminho do fracasso de uma gestão, simplesmente por não serem técnicos.

Trocando em miúdos: Turismo Receptivo não é brincadeira.

Simples assim. Fica a dica.

Assino:

Marcos Ivan de Carvalho.

Jornalista independente, especializado em turismo, MTb91.207/SP; Gestor de Turismo pelo IFRJ/MTur/MEC; membro do Conselho Deliberativo da AMITur (Associação Brasileira dos Municípios de Interesse Cultural e Turístico; filiado à ABRAJET-SP (Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo, seccional SP).

 

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