EDITORIAL: Frascos pequenos nem sempre comportam os melhores aromas

Quando o ego transborda os portais da individualidade

Analistas comportamentais ensinam como entender o subtexto, ou a mensagem subliminar estabelecida por pessoas.

Thomas A. Harris escreveu sobre como entender as pessoas por meio da Análise Transacional em Eu estou OK, você está OK.

Sem considerarmos outros cientistas, pesquisadores e autores, esse citado ensina como melhor entender, para melhor atender, promovendo o relacionamento interpessoal de excelente qualidade para ambos os lados.

Ontem tivemos um exemplo prático de como a gestão pública de Pindamonhangaba tem, em seu elenco de “especialistas de confiança”, pessoas completamente opostas a essa possibilidade de excelência.

Durante a Audiência Pública sobre a Estimativa de Receita e fixação de Despesa do Município para 2024, a presidência do evento questionou a secretária de Obras e Planejamento sobre o Portal (ou pórtico) da cidade. “Secretária, tem alguma previsão para reconstrução do portal da cidade para o ano que vem”?

Uma indisfarçável risada de “eu não queria ouvir essa” entremeou o primeiro momento de resposta, com a moça demonstrando uma espécie de “como vou responder?”.

E a resposta considerou a fala do presidente da Audiência Pública como “uma pergunta muito peculiar, repetindo o termo uma vez”, enquanto arranjava um início de resposta a qual se tornou um tanto subjetiva. (Segundo o “Aurélio”, peculiar é referente a pecúlio, tipo de remuneração a aposentados ou pensionistas e, ainda, PREDICADO DE ALGO OU ALGUÉM...”

Aí ela demonstrou a fala de quem deseja impor algo e não entender aos interesses ou sugestões da população.

A secretária definiu o Portal da Cidade como sendo um símbolo, um marco da cidade (eleito por quem?) e garantiu sua reconstrução.

“Ele vai voltar. Eu falo pra vocês: é uma questão pessoal, até. Como todos sabem a criação, o design daquele monumento foi de minha autoria e realmente assim, tudo nessa vida precisa de um tempo e o tempo é nosso melhor amigo. A gente tem que respeitar, passo a passo, e com toda a certeza, no momento certo, ele vai retornar pro lugar, ainda mais forte e com certeza Pindamonhangaba não vai ficar desprovida desse acolhimento que todos estavam acostumados e nós vamos fazer esse com uma nova roupagem pra firmar o que Pindamonhangaba está se transformando”. (Essa fala mereceu uma gaguejada de buscar o ponto final, tentando virar a página).

Demonstrada ficou a inexistência de qualquer intenção sobre consultar a população, seus setores formadores de opinião, o COMTUR – Conselho Municipal de Turismo (aliás, há bom tempo relegado a pouco espaço e tendo consignado sua marca na mídia publicitária da prefeitura sem ter exercido suas prerrogativas de consultoria, deliberação e fiscalização).

Escondeu o leite, não definindo datas mas garantindo “que o trabalho está sendo feito”. Tentou associar o insucesso do anunciado “centro gastronômico” ao tempo necessário para reerguimento do Portal, haja vista estarem ambos atrelados, amarrados entre si.

Escondeu mais o leite, ainda, ao garantir não existir a mínima obrigação da empresa de caldeiraria responsável pela montagem do caído pórtico, haja vista a mesma ter cumprido sua parte do negócio e permanecendo com a contrapartida recebida: uma bela área de terreno. Além disso, informou não haver nenhum investimento da prefeitura e não declarou de onde sairá o recurso financeiro necessário para reinstalação da lataria, cuja primeira edição foi “vítima das intempéries”.

Na verdade, ultrapassando os portais da falta de respeito com a população, a secretária de Obras e Planejamento ignora completamente o direito de os cidadãos serem informados, ampla e fartamente, a respeito do uso – pelo menos – do solo onde vivem e promovem o desenvolvimento da cidade.

Um amontoado de latas, e muitos rebites, mixado com ego exacerbado e autografado pela gestão fazem a cidade virar motivo de chacota nos veículos de comunicação, mesmo quando veladamente...

Aconteceu com João do Pulo, o magnífico monumento, obra de arte capaz de superar intempéries: não resistiu à falta de respeito para com a tradição e a história, como está acontecendo com a quase já caída Igreja São José e outros espaços da nossa querida Pindamonhangaba.

A cidade não pode, mais, ser desconsiderada em sua história, seus verdadeiros monumentos e sua cidadania. São componentes essenciais à existência do Turismo Receptivo. Aliás, o Departamento de Turismo acredita muito nos “festivais” sem entender de mais nada.

Secretária e prefeito: o portal da cidade (ou pórtico) deu um aviso e não teve paciência e dar o segundo, antes de cair. Valeria a pena entender o recado do tempo, considerando-se ser, este, amigo de verdade.

Afinal, quem sabe a história e o respeito merecido pela cidade não está por aqui somente enquanto durarem um ou dois mandatos mas, sim, são filhos naturais ou adotivos da terra e não hóspedes de um gabinete mantido pelo suor do povo.

Assino.

Marcos Ivan de Carvalho

Jornalista independente, ME91.207/SP especializado em turismo

Filiado à ABRAJET

Publicitário

Gestor de Turismo

 

 

 

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