EDITORIAL: A síndrome da velha fábrica de telhas

(Ou: Turismo Receptivo é coisa séria, até nos banheiros)

Num desses domingos passados, resolvemos dar um passeio pelo Bosque da Princesa, em Pindamonhangaba.

O local está muito mal cuidado, sem gramado, chão careca, mesmo havendo um manancial de águas correntes ali, na beirada do Bosque, além de um veio de água cruzando seus limites.

Seria difícil a elaboração de um projeto para acontecer irrigação do solo, manutenção do verde rasteiro?

Aqui já cabe a citação do DECRETO N° 5.431, DE 28 DE JUNHO DE 2017 o qual define, em seu primeiro artigo: “As Secretarias Municipais, a Subprefeitura de Moreira e Fundação Dr. João Romeiro ficam autorizadas a receber bens, valores e serviços em doação, bem como estabelecer parcerias com a iniciativa privada, objetivando viabilizar projetos relacionados com os vários setores de suas respectivas áreas de atuação, obedecidos os parâmetros legais”.

Mas voltemos à síndrome da velha fábrica de telhas:

Parece haver nos domínios do Bosque da Princesa, algo a contrariar todos os conceitos alusivos à prática do indispensável Turismo Receptivo.

Além de grande parte do chão estar sem o característico tapete verde de outrora, muitas árvores receberam um “XIS” caiado em seu tronco. Seria algum sinal aleatório ou a identificação de derrubada?

Fica a dúvida.

Por conta do instinto investigativo de jornalistas de turismo, decidimos visitar, mesmo sem necessitarmos (ainda bem!), os sanitários masculinos.

Quadro simplesmente LAMENTÁVEL!

Todos os boxes individuais continham um cesto de lixo, sem tampa, vasos sem os assentos, apenas a louça, falta de limpeza adequada, total ausência de papel higiênico.

Só isso?

Não. Duas pias, uma sem torneira e ambas sem limpeza adequada, sem sabonete e sem nenhum recurso para secagem das mãos.

Agora é só, certo?

Errado.

Dependurado na parede do acesso aos sanitários, um único rolo de papel higiênico ao lado de um aviso estúpido: “UTILIZAR O PAPEL HIGIÊNICO MAS NÃO RETIRAR DO LOCAL” (da maneira como estava redigido).

O caro leitor há de nos perguntar como fica a pessoa precisando utilizar o único recurso disponível para atender suas necessidades?

Não fica, haja vista não ser possível mensurar previamente o tanto de papel exigido para sua higiene íntima adequada.

Por ironia, e não piada, num dos boxes havia uma vassourinha de limpar vasos sanitários. Nem imaginamos se alguém tentaria se socorrer com ela, por falta do papel higiênico...

Com a mudança da Biblioteca soubemos de estarem projetando um equipamento ao estilo coworking (tipo escritório compartilhado).

Mais uma ideia nascida na “central de achismos”?

Mestre Kuka

Na parede do prédio da até então Biblioteca há uma pintura assinada pelo saudoso mestre Kuka (datada de 1990). Haveria tempo de pensarem em preservá-la?

Kuka já teve parte de sua obra removida das paredes do Mercado Municipal.

Explicando a síndrome da velha fábrica de telhas

Ela acomete pessoas capazes de imaginar ser possível fazer tudo “nas coxas”, como se faziam telhas nos tempos dos barões do café...

Já passou da hora de providenciarem a adequação dos sanitários, com a disponibilização de todos os recursos exigidos por lei e pelo bom senso, responsabilizando-se os envolvidos, definindo as tarefas de cada um, para termos um efetivo ATRATIVO TURÍSTICO chamado BOSQUE DA PRINCESA.

Não é possível imaginarmos um turista com necessidades humanamente fisiológicas e sem recursos disponíveis para se sentir confortável numa cidade cuja gestão se define como inteligente.

É urgente pensar e entender todos os detalhes de atendimento aos turistas e, mais ainda, ao público local usuário do Bosque.

O Bosque da Princesa é do povo e dos turistas, exatamente nessa ordem!

Quem tem a função de cuidar do Bosque da Princesa precisa ter seu uniforme de trabalho, seus EPIs, recursos para desenvolver sua função além de seu crachá funcional e boa capacitação para suas funções, além de recursos para perfeita higiene e limpeza do local.

Perguntamos aos responsáveis:

O pessoal da Secretaria de Turismo já tentou se utilizar dos sanitários do Bosque, nos últimos 30 dias?

Os Conselheiros de Turismo já fizeram uma visita técnica às instalações sanitárias do Bosque?

Chega de “nas coxas”!

Do contrário não haverá classificação melhor e, só para lembrar e encerrar: o novo ranqueamento para Municípios Turísticos acontece antes do final do ano e, até decisão contrária, serão mais 25 MITs capacitados a receber repasses para o fomento do turismo.

Arrumem o Bosque, acabem com a síndrome da velha fábrica de telhas.

Exercitem Turismo Receptivo de verdade, em todos os espaços do município, pois essa prática “puxa” o merecimento pelo repasse de verbas e possíveis parceiros da iniciativa privada.

Sem muito food truck e com mais assertividade.

É isso.

Marcos Ivan de Carvalho.

Jornalista especializado em Turismo, ME91.207/SP, Publicitário e Gestor de Turismo pelo MTur/IFRJ.

Comentários