O Turismo Receptivo não pode ser para promoção pessoal
Apesar das aparências, nada há para ser comemorado em Pindamonhangaba
O cidadão comum pode até mostrar-se admirado ao perceber, quando os meios de comunicação lhe são acessíveis, algum tipo de “trabalho” da atual administração municipal de Pindamonhangaba no tocante a um suposto progresso no turismo.
Principalmente em se tratando de comunicar ações aparentemente eficazes no segmento apelidado de “novo turismo” (com letrinhas minúsculas mesmo).
Há a importante observação de se distinguir eficácia de eficiência, haja vista esta poder estar repleta de todas as boas qualidades sem, entretanto, atingir o objetivo desejado. Daí, não acontece a eficácia, os resultados não acontecem e, sim, só pompa circunstancial.
Fragmentando nossa análise, destacamos alguns últimos ineficientes e ineficazes momentos da gestão do turismo em Pindamonhangaba.
VIAGENS DE “APRENDER” – o gestor auxiliar (ou subsecretário) da pasta responsável pela Cultura e Turismo bate no peito, puxa os holofotes para si e para o chefe do Executivo, anunciando ter viajado (com dinheiro público) para participar de eventos focados no trade turístico.
Quem se anuncia idealizador do “novo turisminho” deveria entender sobre a necessidade de fortalecer e consolidar seus pilares de atuação locais, envolvendo eficazmente a comunidade, os fornecedores de produtos e serviços turísticos e não saindo feito louco atrás de passeios “de querer aprender como fazer turismo”.
Para aprender, dispensam-se viagens caras e de autopromoção. Existe aí, bem na cara dos gestores, uma ferramenta eficiente com nome próprio e profissionais tecnicamente capacitados e habilitados em bem contribuir para o sucesso dos empreendimentos, principalmente na praia do turismo receptivo. Chama-se SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, especializado em promover o uso correto de técnicas, conhecimentos e ferramentas para o melhor desempenho dos empreendedores.
Argumentarão, os “do contra”, não ser responsabilidade do Executivo se o SEBRAE é para atender empreendedores. Contrapomos: onde há parceria, os resultados acontecem e os projetos não morrem nas gavetas ou nas mentes de empreendedores desprezados.
INSCRIÇÃO EM “PRÊMIOS DE TURISMO” OU DE “EXCELÊNCIA – Aberração plena, ação inócua, haja vista a cidade não contar com projetos consolidados e fluindo com estrutura plena.
Recentemente o alcaide ergueu o punho, num sinal de conquista, por ter sido – o município – classificado em segundo lugar na categoria “Governança, Eficiência e Transparência” no certame “Cidades Excelentes”, promovido por uma emissora de televisão e um Instituto de Pesquisas. Nota: Não houve segundo colocado, pois somente se anunciavam os finalistas e o vencedor. Faltou transparência do prefeito em destacar ter recebido, apenas, um certificado de participação.
No mesmo certame, recebeu o título de excelência em “Infraestrutura e Mobilidade Urbana”, exatamente numa época quando as calçadas são mal cuidadas, o trânsito urbano é caótico, os radares são fábricas de multas, a sinalização é pouca. Em se tratando de item destinado ao conforto e segurança dos pedestres transeuntes, ainda fervilham bares e restaurantes com calçadas ocupadas por suas mesas, contrapondo-se ao direito de ir e vir, com segurança, principalmente devido às Pessoas Com Deficiência.
Nesse detalhe, vejam como exemplo uma rampa para PCDs existente na praça Dom Pedro II (Santana): do lado da praça, a rampa existe. A faixa de pedestres está pintada no leito carroçável. Do outro lado, na calçada de um condomínio ao lado da escola Senac, um obstáculo com cerca 25 centímetros de altura, impossível de ser escalado por uma cadeira de rodas.
Para o certame de “excelências” não houve inscrição, por óbvios motivos, nas categorias Educação, Saúde, Sustentabilidade. São segmentos com notáveis precariedades.
Nem metade dos municípios paulistas participou desse “prêmio”. Isso indica a pouca importância do certame para as cidades com gestão mais eficaz. Quem trabalha não precisa competir para certificar sua excelência. Isso flui naturalmente, principalmente nas próximas urnas.
(Não sabemos se esse tipo de certame tem a ver com alguma contrapartida do município, pois o custo do minuto merchand em televisão é caro).
Saindo do forno, resultados de outro prêmio, o Top Destinos.
Inscreveram Pindamonhangaba nas categorias turísticas “Gastronomia” e “Turismo de Aventura”. Mais oba-oba político, sem nenhum resultado prático para a consolidação do município dentro desses dois perfis. Aliás, em termos de infraestrutura, falta muito para tentar conquistar algum título por merecimento.
Não foi primeiro lugar em nenhum dos dois, mas a gestão insiste em afirmar ter sido finalista, sem nenhuma vantagem prática para a cidade, apenas para “constar” como envolvida com as ações pelo turismo. Item curricular completamente inútil no frigir dos ovos.
SEMANA MUNICIPAL DO TURISMO – Nascida de projeto proposto pelo então presidente da edilidade local. Texto raso, apenas dois parágrafos, sem detalhes de regulamentação. Na primeira comemoração, em “solenidade” pouco divulgada, serviu para homenagear políticos “amigos do turismo”. Não houve nenhuma programação digna de celebrar a Semana Municipal do Turismo.
COMTUR CAPENGA – Acompanhamos, durante praticamente quatro anos, as reuniões mensais do Conselho Municipal de Turismo de Pindamonhangaba. Vivenciamos o “bater de cabeças” de quem afirmava estar no rumo certo, mesmo sabendo não ser verdade. Perdeu-se muito tempo, e ainda se perde, na configuração ideal de seu time, projetos não nascem e, quando nascem, crescem disformes e não produzem resultados eficazes.
O Plano Diretor de Turismo original perdeu sua validade sem ser aplicado, na prática. O Plano Diretor de Turismo – Revisional deveria ter sido completado em novembro do ano de 2021, está no congelador, sem audiências públicas para sua validação e sem provável validação, haja vista as naturais mudanças nos rumos da gestão do turismo estadual, com reflexos nos procedimentos estabelecidos para cada município ainda não MIT – Município de Interesse Turístico. Será preciso a ocorrência de negociação política por vagas, além da consolidação do ranqueamento dos municípios já titulados como turísticos (Estâncias Turísticas e MITs). O ranking inicial já aconteceu e deve se repetir a cada dois anos...
O COMTUR não se promove, não mostra a cara, não defende seus espaços, não exige a observação do cumprimento da Lei Municipal a qual o rege. Não cobra, da gestão pública nele representada, caminhos de se divulgar e se promover. A mídia local não tem COMTUR como “anunciante”, simplesmente por este não ter um plano de comunicação adequado de merecer parceria para divulgação.
SOCIEDADE CIVIL ACOMODADA (leia-se: comércio de bens e serviços) – Por não existir um COMTUR forte, inteligente, estruturado, a sociedade civil não tem o envolvimento ideal para – pelo menos – contribuir com “pitacos” para o turismo receptivo vir a ser merecedor das manchetes regionais. Sim, regionais, pois a mídia local só publica material produzido pela comunicação da Prefeitura.
VEREADORES ALHEIOS – Ao soprar da brisa da incompetência, os vereadores locais não têm o mínimo interesse em querer aprender sobre turismo e suas possibilidades para a movimentação da economia em Pindamonhangaba. Nem a Comissão da Edilidade destinada a avaliar os projetos do segmento (formada por três vereadores) se dignou visitar uma reunião mensal do COMTUR. Daí, não adianta quererem, apenas, destinar verbas para o turismo, mesmo porque ficam em ficha não cabível de fiscalização pelo COMTUR e, sim, de destinação exclusiva do Executivo. Mesmo existindo o FUMTUR.
Fica para reflexão de tantos quantos se dedicarem em pensar um pouco mais sobre os destinos da cidade, principalmente nessa antessala das próximas eleições, ocasião na qual as torneiras dos cofres públicos jorrarão custeio para mais uma temporada de maquiagem pelas ruas e praças da cidade.
Vinícius Lummertz, titular da pasta estadual de Turismo e Viagens (até 31 de dezembro) afirmou, em recente evento na cidade de Guaratinguetá: “Não adianta um prefeito dizer ter, em sua cidade, umas quinze cachoeiras. É preciso existir infraestrutura receptiva. Do contrário, serão apenas cachoeiras”.
Aqueles tempos de “levar o povo na conversa” não funciona mais, precisa haver vontade de fazer política pública em prol do turismo receptivo.
Os protagonistas só precisam acordar, entender o tempo perdido e – realmente – trabalhar pelo turismo receptivo.
Caso contrário, parodiando Erasmo Carlos, ficarão sentados à beira do caminho.
Pronto, escrevi e agora assino:
Marcos Ivan de Carvalho
Jornalista profissional especializado em turismo, ME91207/SP
Publicitário, ME6631/SP
Gestor de Turismo pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro