EDITORIAL: João do Pulo não pode ser moeda política promotora da soberba e arrogância
A arte e a história mais uma vez “violentadas” pela incompetência e falta de sensibilidade.
Todo artista merece respeito. Ponto final.
Todo cidadão tem direito à opinião. Ponto final.
Todo gestor tem a infinita responsabilidade de ser povo e não meramente indivíduo cercado de incompetentes. Do contrário, será o chefe dos incompetentes. Importante este ponto final.
Pindamonhangaba atravessa uma era de, praticamente, viver de doações (ou permutas, sabe-se lá...).
Quando não, são prorrogações de contratos, pouca ou nenhuma audiência pública.
Apenas tudo se resolve no cubículo das quatro paredes do “rei da caneta”.
Mais uma vez a história de um herói negro, brasileiro, pindamonhangabense, é atirada nos ralos da coisa mal feita.
A magnífica obra do artista plástico Lizar passou por processo de criação. Exatamente isso, um processo de criação.
O cidadão sonhou João do Pulo num salto para a glória, para a história, com as cores do nosso país e o valor de nossa cidade.
Recordo-me perfeitamente quando, ao estar no horário de serviço na saudosa Rádio Difusora de Pindamonhangaba, nos chegou a notícia do feito de João Carlos de Oliveira, derrubando o recorde mundial do salto triplo, assinalando incrível nova marca.
A cidade foi festa, fez festa. A moçada do bloco Charles Anjo 45 se orgulhou, pois o “negrão” era vermelho e branco, bom de samba...
De todas as homenagens recebidas, João Carlos sempre estará na retina e nos arquivos mentais de todos nós com aquela escultura, de linhas modernistas, estilizando um dos importantes estágios de seu salto para o ouro.
Era referência turística, acreditem.
Quem chegava a Pindamonhangaba, acessando a via principal, conseguia entender o propósito de Lizar: João parecia estar pulando o topo da Serra da Mantiqueira...
Daí veio o primeiro momento de “violência” à Arte e à História, com o gestor alegando ser, a obra original, não representativa do momento. “Mais parece um dançarino, um homem de lata”, disse o moço da caneta.
Claro serem, em alguns momentos, passos de dançarino os movimentos de atletas. Afinal, para ser bailarino, exige-se a preparação atlética.
João Pernalonga saboreava, nos seus voos, a leveza do passista de escola de samba, a seriedade de um atleta soldado, em defesa de sua Pátria e a liberdade de estar executando um trabalho técnico, com pitadas de criatividade...
Desrespeito.
Desmontaram o João de Lizar, fizeram um enorme pedestal e, quase ainda na calada da noite e com o alvorecer, começaram a instalar uma aberração com apelido de monumento. Permaneceu ali por menos de 24 horas, pois o povo chiou, com razão...
Aqui cabe total respeito e reverência ao autor da segunda obra. Entretanto, a irresponsabilidade de o mesmo passar por momentos de constrangimento foi de quem liberou a arte final para instalação.
Nunca representaria o herói recordista.
Para mim, parecia mais um “memenumento” a Mike Tyson.
Em tempo:
Envolveram, no malfadado marketing para mudança da opinião pública, falas de pessoas próximas a João do Pulo, inclusive um cronista esportivo seu amigo.
O segundo momento de “violência” à arte de Lizar e à conquista de João:
Instalaram o “homem de lata”, o “bailarino” no Centro Esportivo João do Pulo, ao rés do solo. Quando deveria estar “voando”...
Sem aquela base de tubos os quais o destacavam do solo. Estilizados, os tubos representavam uma flor. Atletas recebem flores em tempos de sua premiação...
Mais uma vez dois irmãos de cor (João e Lizar) são, em minha opinião, desrespeitados e vítimas de um discurso “tapa sol com peneira”.
Vem aí nova versão de João do Pulo. Respeitos nossos ao autor dessa nova obra, construída em fiberglass e metal.
A Sala de Imprensa da Prefeitura informa ser à base de doação.
Mais de um ano com aquela rotatória vazia do monumento verdadeiro e cheia de entulhos e interrogações.
Mas nosso não aplauso à administração, com todos seus cargos de confiança os quais nada entendem da história de nosso atleta.
Parece, até, desejarem destruir tudo quanto foi erigido em outras gestões...
Aí é a soberba esfarrapada, o egoísmo idiota e a total insensibilidade.
Seria impossível aos outros supostos representantes do povo se manifestarem contrários a essa estupidez administrativa?
Ou a eles, vereadores, basta estarem “de bem” com o prefeito e seu time de incompetentes?
Respeitem a história, a arte e a memória de João do Pulo.
Não utilizem nomes e conquistas para se travestirem de representantes ou gestores preocupados com o povo, inclusive quanto às suas mais gratas lembranças de sucesso.
Penso assim, não escrevo em nome de outra pessoa.
Expresso meu sentimento.
Quem quiser, assine nos comentários, se não concordar com a falta de respeito borbulhando nos ares da Princesa.
Marcos Ivan de Carvalho
Jornalista Independente ME91.207/SP
Publicitário ME6631/SP
Gestor de Turismo pelo IFRJ
Filho adotivo de Pindamonhangaba e amigo de João Carlos de Oliveira.