EDITORIAL: Igreja São José merece muito mais cuidado
Dificilmente alguém não respeita aquilo que o cativou.
Baseado em texto da acadêmica Bete Guimarães, de Pindamonhangaba (Foto da Capa: Destaque para o livro "Recontando a História de uma Princesa" - Foto: Marcos Ivan, Canal39)
Livros.
Gosto de lê-los, guardá-los, relê-los, revisá-los...
Parece incrível, mas alguns trazem pequenos descuidos de revisão. Outro tanto, contém a essência do desejado transmitir e um sem número de não tão pequenos descuidos.
Livros.
Leio-os com sede de rever ou saber sobre o já passado, a ficção bem contada, o registro indispensável à manutenção da História.
Bete Guimarães, acadêmica de nossa APL e dedicada escritora, cuidadosa e incrivelmente didática em seus textos, presenteou-me com um exemplar de sua obra “Recontando a História de uma Princesa” (edição autoral / Gráfica e Editora São Benedito/2007).
É um livro de deliciosa leitura, nos conduzindo por meandros da História de Pindamonhangaba. Um passeio com a plena sensação de termos um guia de turismo ao nosso lado, recontando o já acontecido ou sabido nas dobras do tempo de existência da nossa querida Princesa do Norte, Pindamonhangaba.
Ouso, aqui, pinçar um trecho do “Capítulo V – Pontos Turísticos de Pindamonhangaba” escrito pela professora Bete Guimarães, mesmo sabendo infringir recomendação textual contida na página catalográfica da obra.
Considero esse trecho de importante atualidade, e o reproduzo com fidelidade, por representar sentimento meu quanto ao valor a ser atribuído, verdadeiramente, à nossa Igreja São José.
Prezada Bete, com sua permissão, reproduzo o seguinte trecho:
“A igreja São José é uma relíquia do período áureo do café em Pindamonhangaba; foi construída pela família Godoy, sendo destinada ao culto e também serviu de capela cinerária. Sua construção foi iniciada em 1840 e concluída em 1848, em substituição à primeira capela, que estava localizada ao lado do antigo mercado e fora destruída pelo tempo. Suas paredes são de taipa de pilão e seu tamanho é regular. À frente tem duas janelas e três portas, o corpo também é de tamanho regular e tem janelas laterais, coro, tapa-vento, altar-mor e uma pequena sacristia.
Em suas paredes laterais havia diversos túmulos dos filhos ilustres de Pindamonhangaba que eram membros da Guarda de Honra de DS. Pedro I.
Esses túmulos foram demolidos e os despojos foram reunidos em um só túmulo, que se localiza no altar da lateral direita da igreja. Esse importante edifício foi tombado pelo Governo do estado, através do CONDEPHAAT. Está localizado na Praça Barão do Rio Branco, ao lado da Câmara Municipal, também outro patrimônio histórico.
Seria interessante se ela se tornasse um museu sacro, ou simplesmente um ponto turístico realmente averto à visitação com orientação e explicação sobre o seu valor histórico. Os jovens, com certeza, não mais a pinchariam e não mais quebrariam os seus vidros. Dificilmente alguém não respeita aquilo que o cativou” . (Bete Guimarães).
O momento é mais crítico
Já em 2007 a escritora apontava a falta de cuidados para com o patrimônio histórico.
Há 14 anos essa situação somente se agrava, com o Poder Público Municipal e a Mitra Diocesana de Taubaté divergindo, judicialmente, a respeito das responsabilidades e cuidados para com a Igreja São José.
Medidas paliativas mínimas acontecem, em alguns vãos de tempo, no sentido de se minimizar a infiltração das águas da chuva, extremamente prejudiciais à estrutura de taipa de pilão.
Quando da segunda gestão de João Ribeiro, à frente da municipalidade, houve a assinatura de um documento autorizando, a uma empresa especializada em captação de recursos, a elaboração de projeto de restauração do monumento.
Parece-nos, naquela ocasião, a empresa não haver percebido ser a restauração de um patrimônio histórico e não de uma ação para preservação de algum ícone cultural.
Daí, nas andanças da documentação, houve esse impedimento, haja vista a autorização para restauração de patrimônio histórico não poder ser contida por um projeto de foco cultural, pela especialização da empresa a qual receberia o repasse de recursos advindos da captação autorizada inicialmente.
Entre idas e vindas, os prazos venceram, aparentemente houve algum descuido ou descaso da parte de alguns envolvidos, a obra de restauração não aconteceu.
Justo se faz destacar as ações do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e do Conselho Municipal de Cultura, por suas gestões anteriores, no intuito de se esclarecer as responsabilidades ou as possibilidades de prosseguimento do processo para restauração da Igreja São José.
A situação é simples, clara, inequívoca e com crescentes riscos: o templo construído pela família Godoy, para utilização em celebrações e velórios, abriga restos mortais de personalidades da História Nacional e, aos poucos, sucumbe às ações das intempéries, dos abalos em sua estrutura, por conta do inevitável tráfego de veículos ao seu redor e, ainda, pela falta de preservação externa, vítima constante do vandalismo.
A proposta da acadêmica Bete Guimarães está explícita em seu texto, com as iniciais vantagens também citadas.
Fica a dica, aos responsáveis pela manutenção da História da Princesa:
“Dificilmente alguém não respeita aquilo que o cativou”.
Para quem bate no peito e faz coraçãozinho juntando as mãos, já passou da hora em se decidir resgatar esse ponto turístico de Pindamonhangaba. Para isso, carece a lembrança de ser, o Estado, laico e principal responsável pela manutenção de seus atrativos turísticos tombados, além do depositário legal, pela nativa tarefa de promover a qualidade de vida dos munícipes, haja vista o turismo, quando bem administrado, ser gerador de trabalho e renda.
Ainda mais quando se anuncia o Novo Turismo de Pindamonhangaba.
É o meu sentimento, devidamente assinado:
Marcos Ivan de Carvalho
Jornalista Independente, MTb36001