EDUARDO MIELKE ESCREVE: O real papel da Sectur

Um panorama adequado quanto ao desempenho de um secretário Municipal de Turismo

O REAL PAPEL DA SECTUR

(Série SIMTUR, por Eduardo Mielke)

Olá! Antes de entrarmos no tema desta semana, permita-me fazer um pequeno teste contigo. Das opções abaixo, assinale aquela(s) que é (são) papel da Secretaria Municipal de Turismo:

a) Divulgar ou fazer propaganda (vulgo marketing) do Turismo, objetivando aumentar o número de turistas e eventos no seu Município.

b) Elaborar Roteiros ou Rotas temáticas, a fim de diversificar a demanda e melhorar a penetração do mercado dos principais segmentos turísticos do seu Município.

c) Captar recursos através de Convênios Federais, para investimentos em projetos estruturais e estruturantes.

d) Promover a Cooperação através do COMTUR + C&VB, usando da prerrogativa de ser poder público para articular ações estratégicas, com o 3o setor e o mercado.

PARTE I

Se você foi “seco” e direto nas opções “a)” e “b)”, eu te entendo perfeitamente.

Não é nenhuma surpresa que essas sejam as principais demandas dos empresários do turismo. A questão toda é que atender estes “pedidos”, é uma tarefa muito inglória. Com baixo orçamento e pouco prestígio, parece que as SECTURs ficam sempre no ar, com aquela constante sensação de incapacidade, de que não estão entregando resultado algum. E em tempos de C19, a pressão aumenta…

Então! Esta inquietação reflete algo que talvez você já deve ter percebido. Se ainda não caiu a sua ficha, temos uma boa notícia para você. As opções “a)” e “b)” nunca deveriam ter sido sequer opções, do que uma Secretaria de Turismo deve fazer pela atividade no seu Município.

Quando um empresário turístico vem até você, perguntando o que a SECTUR (ou até mesmo o COMTUR) está fazendo para melhorar os eventos e/ou a taxa de ocupação nos hotéis, pousadas e restaurantes, ele está te demonstrando, na realidade, três coisas importantes:

. Que ele não tem clara a divisão ou os limites do que é o papel do Poder Público, da Iniciativa Privada e do Terceiro Setor, criando um problema sério de responsabilidade;

. Que ele tem dificuldade de enxergar o comportamento da demanda, além dos muros do seu próprio negócio;

. Que ele não entende muito bem a estrutura e funcionamento de uma Prefeitura e do poder público como um todo.

Muito mais sério que você possa imaginar, o conjunto desse “1, 2 e 3” é a CAUSA de uma lista enorme de EFEITOS nocivos que comprometem praticamente tudo aquilo que se espera que aconteça em um Município que pretende ser turístico.

Aqui elenco alguns deles:

Deficiência e falta de associativismo, cooperação e colaboração em todos os níveis;

Pouco ou fraco engajamento bons empresários e baixo nível de confiança entre o trade.

Falta de conexão com o mercado de intermediários – agências de viagens e operadoras;

Excesso de dependência e expectativa do Poder Público em todos os níveis;

Pouca eficácia e eficiência do COMTUR e demais entidades;

Falta de objetividade das ações tático-operacionais, pela desorientada estratégia e foco na identificação e manutenção do DNA do turismo na Cidade;

Excesso de ações de curto prazo, que se caracterizam por serem aleatórias, pulverizadas e descontínuas, transformando qualquer coisa numa gincana;

Calendário de Eventos totalmente desconexo com o perfil da Economia Local;

Pouca ou baixa competitividade pela inovação;

Planos Diretores de Turismo incipientes de baixo prestígio junto à sociedade civil e ao próprio empresariado, o que resulta num pífio orçamento anual da SECTUR.

Tecnicamente falando, quanto mais forte você percebe que este “1, 2 e 3” faz parte da sua realidade, mais fora do caminho o seu Município está. E muitas SECTURs acabam cedendo, caindo na teia do desespero e gastando o pouco recurso que não tem no paliativo. Aqui faço referência ao roteirinho+folderzinho+propagandinha, aquela trilogia dos horrores do chover-no-molhado que nunca irá levar o Município a lugar nenhum.

Está na hora de mudar esta história. Em pleno 2020, não há como obter resultados diferentes fazendo as mesmas coisas, certo?

E exemplos não faltam.

PARTE II.

Tirando aquilo que nem de longe, e nem de perto, é função de uma SECTUR, vamos agora focar no que realmente interessa. Seus reais papéis.

Ah! E da próxima vez que um empresário ou dirigente de entidade lhe perguntar o que a Secretaria está fazendo para melhorar as vendas dele, peça que leia a Parte I. Facilita…

Então vamos lá.

Aqui tens as DUAS essenciais, e quase que únicas, funções reais de uma Secretaria de Turismo:

c) Captar recursos através de Convênios Federais, para investimentos em projetos estruturais e estruturantes.

Você, que trabalha numa Secretaria, já deve ter ouvido falar em SICONV – Sistema Nacional de Convênios. Um dos principais papeis é a captação de recursos junto ao Governo Federal, tanto para projetos estruturantes (elaboração de projetos, consultorias), bem como estruturais (intervenção física, como obras).

E você não precisa necessariamente recorrer ao MTUR. Muito pelo contrário, há recursos de programas do Governo Federal, em outros ministérios.  Ou converse com o Prefeito e acione a bancada do Deputado Federal da base, para que emendas parlamentares possam ser pensadas…

Para começar, você precisa atuar em algumas direções simultaneamente, a saber:

 1º - Trazer a partir das discussões do COMTUR, quais são as principais demandas (intervenções necessárias, como melhoria de acesso, sinalização, projetos, etc.). Uma vez chancelado no conselho.

2º - Reunir-se com o Secretário de Administração, que normalmente comanda os processos de licitação e traçar as estratégias, incluindo ter o “ok” do Alcaide.

3º - Entender de SICONV para inserção dos projetos. Não se esqueça de sempre que possível, atualizar o COMTUR sobre o andamento do processo.

Uma secretaria que gasta energia na captação de recursos, ganha mais prestígio junto a Prefeitura em todos os níveis. De quebra também, começa a trabalhar com mais qualidade, na medida em que passa a fazer algo público dentro do público. E não precisa se meter em algo que é privado, como elaborar roteirinho, rotazinha, folderzinho…

E aqui vai uma dica: estude os modelos de PPP (Parceira Público Privada) sobretudo para uso de espaços públicos que podem se transformar em equipamentos turísticos e ou atrativos. São quatro modelos existentes, cada um com as suas peculiaridades…

d) Promover a Cooperação através do COMTUR + C&VB, usando da prerrogativa de ser poder público para articular ações estratégicas, com o terceiro setor e o mercado.

Só pelo fato de ser Secretário ou Diretor de Turismo da SECTUR tem acesso a pessoas e entidades, dentro do próprio poder público que nenhum empresário ou presidente de qualquer entidade tem. O público recebe melhor quem está no público, pois sabe que as demandas serão resolvidas no campo da política.

Além disso, use o status de poder público para promover a cooperação entre os diversos elos da Cadeia de Valor do Turismo (por favor, o termo cadeia produtiva é tecnicamente equivocado – Turismo não produz nada, o seu uso provém de uma série de serviços que são prestados, cada um com o seu valor monetário – Logo, Cadeia de Valor).

Um dos grandes gargalos do turismo no Município é que, via de regra, a oferta é muito desconexa e desconectada entre si.

Quer um exemplo? Na sua Cidade, entre nos hotéis e vá direto a recepção. Se você encontrar mais folders de delivery do que de passeios (mais coisas para comer do que para fazer), você já tem trabalho pela frente.

Municípios fortes, e que dão certo, tem na cooperação a sua forma e fonte para melhorar a competição e a inovação. Daí o Cooperar para Competir, que sempre falo aqui. São os empresários turísticos que precisam se sentar e trabalhar juntos na elaboração do “o que fazer, como fazer, mercado… promoção”. E neste processo, se a Secretaria não tomar a iniciativa e instigar que ações sejam levadas a cabo por e através deles, nada vai muito à frente.

E, por fim, é vital que a Secretaria, use mais uma vez da sua prerrogativa para articular com o Terceiro Setor e as universidades. A pauta aqui é a capacitação de empresários sobre os conceitos e aplicação da economia criativa, comportamento do consumidor pós-C19 e promoção e gestão das mídias sociais de cada negócio. E se tais conhecimentos não estiverem facilmente ao alcance da oferta turística, pouco a cidade irá avançar sobre a demanda. Em suma… Será o mesmo do mesmo que você irá encontrar. É como querer resultados melhores fazendo as mesmas coisas. Pense nisso, Secretário de Turismo.

Para mais detalhes, dúvidas ou esclarecimentos?

Escreva.

Curta a fanpage @politicadeturismo ou escreva para emielke@kau.edu.sa

Obrigado pela confiança.

Para quem não me conhece, meu nome é Eduardo Mielke. Desde 2004, meu trabalho é ajudar você que é gestor Público ou representa uma associação de turismo ou COMTUR. Os textos são para auxiliar/orientar também, aqueles Governos que buscam usar de forma mais inteligente os recursos disponíveis através da cooperação. O que importa mesmo, é a geração de emprego e renda local. O resto é conversa fiada.

Palestras, Workshops e treinamentos? Escreva para emielke@kau.edu.sa

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Agradecemos ao Dr. Eduardo Mielke por mais uma valiosa contribuição.

 

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