EDITORIAL: Carta aberta ao prefeito Isael Domingues

Sobre a possível capacidade de entender as dores do povo

Caro prefeito Isael Domingues:

De minha formação e da educação recebida em família, cumpre-me desejar-lhe bom retorno e breve restabelecimento pleno.

Não é possível acreditar na sinceridade de suas primeiras falas, pós-alta de tratamento por conta de ter sido infectado pelo vírus causador da COVID-19.

Apesar de aparentar algum resquício da dificuldade passada, traz muito de arrogância para se posicionar ao dizer das suas atitudes na gestão.

Por isso, fico bem à vontade para expressar meu mais sincero sentimento.

De sua voz ouvi, quando da assinatura do convênio com a O.S. do Frei Bento, a afirmação arrogante e pretensiosa: “Deus escolhe quem deve exercer o poder”.

Naquela época, o povo já apanhava muito por conta da pouca visão administrativa com eficiência e eficácia, prometida, aos berros, sobre o caminhão 22 e por conta de uma equipe comissionada pouco interessada em respirar o mesmo ar respirado pelos pindamonhangabenses.

Agora, quando sua pessoa afirma ter passado pela “bacia das almas”, creio ter havido muito tempo, por conta de – segundo também sua afirmação – não haver perdido a lógica de raciocínio e poder refletir sobre o valor de viver o sofrimento do povo sob sua gestão.

O sofrimento de um tanto grande de infectados deve ter passado, em seu tempo de cateteres de alto fluxo, no Incor, pela mente, doendo na carne e passeando pelos seus pulmões.

O mesmo fluxo de desespero, medo, incerteza e falta de ar. Muita falta de ar...

Será possível, após este verdadeiro “test drive” de sofrimento humano, o senhor entender a necessidade de não mais dobrar os joelhos diante de um governador egocêntrico, narcisista e totalitário?

Já passou da hora de o senhor entender sobre – realmente – convocar os 11 vereadores de Pindamonhangaba, saindo todos às ruas e convocando, também, os empresários de todos os segmentos de comércio e serviços, botando a “boca no trombone”, levantando a lebre e combatendo o vírus do oportunismo político!

Não espere, mais, a sofrida população se aglomerar em filas de espera, por conta do estreito horário de funcionamento do comércio. Isso, comprovadamente, só vai contribuir para mais dor, sofrimento, desânimo e revolta.

Não alimente, com paliativos, a necessidade de se acender a luz de guiar todos os esforços e sentimentos em prol de dias melhores, mais normais e com mais alimento à mesa de todos, menos lágrimas sobre saudade precoce.

Logicamente, desde a sua internação até a sua alta, os mais plenos esforços profissionais e econômicos o contemplaram.  Pense nisso, se ainda não reservou um instante para tal.

Aposto haver se lembrado de orar pelos cidadãos cuja existência foi encurtada devido ao vírus. Imagine como ainda dói o coração de tantos quantos ficaram por este plano, sem terem a mínima chance de providenciar um velório aos restos mortais de seus familiares.

É-me plena a certeza de o senhor não ter sentido a mesma dor, a mesma tristeza e nem sofrer, com a mesma intensidade, a saudade de um abraço, um “Deus lhe abençoe”, um beijo de uma mãe, um avô, um pai. Filhos ainda se desfazem em lágrimas...

Sua gestão está por findar. Deixe um legado de honra para sua própria pessoa e para sua história: resgate o direito ao trabalho pleno de todos. Provoque esse movimento junto aos seus colegas de outras cidades. Marche, com o Legislativo e o povo de sua cidade; leve para frente a bandeira de estar ao lado do povo, para acontecer o novo novo...

Só para arrematar, entenda seu direito de mudar os interesses de poucos e dar valor aos interesses de um povo. Os poucos passam e podem, até, esquecer a existência de um prefeito o qual os serviu.

Entretanto, o povo não passa e tem memória, por ser esclarecido, apesar de sofrido e judiado.

Em tempos de usar máscaras, é preciso desmascarar os falsos defensores do povo.

Ao fim de sua missão, como gestor do município, acredito ser sua preferência existir e ser feliz em Pindamonhangaba. Não descarte isso.

Para isso, nem precisará erguer a voz para ser ouvido. Bastará ser, o tempo todo, agradecido por essa experiência de sentir as dores de um povo.

 

Fraternalmente, 

Marcos Ivan de Carvalho

Jornalista MTb36001

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