CARNAVAL: Tamandaré sob chuva conta lenda da serra que chora
Enredo da azul e branco descreve paixão do Sol por uma índia e os ciúmes da Lua
Uma das mais belas, e ainda preservadas, paisagens do Vale do Paraíba foi motivo de o Grêmio Recreativo Cultural e Escola de Samba Unidos da Tamandaré levar para a Avenida Carnaval, em Guaratinguetá, seu enredo de 2020.
Com o ritmo forte de uma bateria bem cadenciada aproximadamente a 144bpm, inclusive – em alguns dos momentos do samba - com direito a uma audaciosa vinheta do surdo de primeira, a agremiação falou sobre a lenda da Serra que Chora (Amantikir), a Serra da Mantiqueira.
Nos altos da montanha, uma tribo guarani realizava seus rituais noturnos à luz da Lua (Jaci), enquanto guarás (aves de plumagem avermelhada e uma das mais belas espécies brasileiras) e guanambis (beija-flores) aguardavam o dia clarear.
Com a chegada do Sol (Guaraci) e, muitas vezes, a continuação das danças, havia uma índia de beleza incomparável, pele bronzeada como a castanha. Essa jovem era motivo de disputa entre os guerreiros da tribo, em incríveis lutas. Daí, sempre, acontecia uma verdadeira algazarra (pocema), com falatório geral. A bronzeada moça não se encantava por nenhum dos guerreiros.
Conta, a lenda, ter Guaraci se apaixonado pela jovem ao ponto de se esquecer de “ir embora”, para a chegada de Jaci. Com isso, as plantações se queimavam, pessoas, animais e aves pereciam, por conta do amor “doentio” do astro para com a índia.
Jaci, apaixonada por Guaraci, clamou a Tupã, deus. Tinha ciúmes e inveja de Guaraci com a índia. Tanto insistiu e Tupã, condoído, decidiu fazer as coisas voltarem ao eixo normal. Aprisionou a bela causadora da inveja e dos ciúmes em uma espécie de caverna, no cimo da montanha, impedindo-a de ver e ser vista tanto pelo Sol como pela Lua e os demais da tribo.
As lágrimas da bela jovem, incontidas e aos borbotões deslizam, infinitamente, pelos vãos e reentrâncias da Serra da Mantiqueira, evidenciando seu sofrimento e seu impossível amor por Guaraci.
No enredo há a citação de “as bênçãos da Padroeira”, por conta de os autores remeterem as águas da Serra que chora como parte dos elementos componentes do Rio Paraíba do Sul, em cujas águas foi encontrada a imagem daquela que seria, posteriormente, consagrada como Padroeira do Brasil.
A Tamandaré levou para a avenida belas alegorias, fantasias remetendo aos guarás, guanambis e algumas outras espécies animais e da flora, merecedores, sempre, de cuidados para sua preservação. Em sua Comissão de Frente, os guerreiros da tribo e a personagem da bela índia, motivo da lenda.
Sua última alegoria, com uma cascata jorrando, representou – logicamente – a Serra que Chora.
A nota final dos julgadores estabeleceu-se em 314,7, apenas 4 décimos da segunda colocada.
(Texto: Marcos Ivan / Fotos: Ednal Maischberger, Canal39)
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