CARNAVAL: Mocidade Alegre canta Jorge da Capadócia e fatura “bi” em Guaratinguetá
Escola do Pedregulho leva samba forte e muita energia para a Presidente Vargas
Desde a Comissão de Frente e o imponente carro abre alas, a Escola de Samba Mocidade Alegre do Pedregulho demonstrou sua intenção de não simplesmente desfilar em mais um Carnaval de Guaratinguetá.
O enredo estabelecido para a confecção do samba continha elementos da história de Jorge da Capadócia, soldado romano da guarda pessoal de Diocleciano.
Associando a personagem com a lenda de combate e morte ao dragão devorador de crianças, promovendo, com isso, a conversão de todo um povo, São Jorge – antes – ganhou condições de elevado destaque no império romano. Por não mais aceitar a maldade praticada contra os cristãos e conhecendo mais sobre o cristianismo, converteu-se e passou a ser um entrave para o império. Torturado, não desistiu de seu intento em pregar ensinamentos cristãos, sendo, por conta disso, degolado por ordem do imperador.
Isso fica resumido na frase da letra do samba enredo: “A fé venceu, na batalha superou a dor”.
Com nota máxima dos julgadores, o quesito mestre-sala e porta bandeira foi defendido pelos casais “importados” da Acadêmicos do Tatuapé: Diego e Jussara (1º casal), Sérgio e Bianca (2º casal). Nas roupas de um dos mestres-sala, o número 7, subjetivamente representando as 7 artes e a força desse numeral no terreno da espiritualidade.
O samba também destaca São Jorge como combatente do mal (vencendo o dragão), padroeiro de muitas cidades e nações, como Portugal e Inglaterra; padroeiro dos escoteiros e da Cavalaria do Exército Brasileiro, da cidade de São Jorge de Ilhéus (BA). (“Derrotou o mal, com sua lança imortal / de muitas nações padroeiro / a fé moveu o mundo inteiro / de Portugal a devoção atravessou o mar / é o Brasil a te abraçar / axé soldado do luar”.
Naturalmente, por se tratar de samba, as origens afro não foram, em momento algum, esquecidas. O sincretismo dos cultos está bem estampado não só na letra como, também, nas alegorias e fantasias. Numa alegoria, Jorge da Capadócia derrota o dragão. Um dos componentes da Escola traz as vestes do candomblé, sincretizando São Jorge em Ogum, também guerreiro. Em sua coreografia, o ator executa alguns passos da dança desse orixá do candomblé.
Ainda, em termos de alegorias, Oxalá, nos cultos afro, representa o grande criador da humanidade e tem sua casa protegida por Ogum.
O refrão do samba “ÔÔÔÔ... Firma o ponto batuqueiro ÔÔÔÔ... Bato cabeça no congá. Acendo vela pra saudar o grande orixá, saravá... saravá... saravá” registra a presença, por outro lado, do culto umbanda, de origem brasileira, assim como a lenda de São Jorge “morar” na lua.
Pixulé, caminhando ao lado do carro de som, em alguns momentos frisou esse refrão com a representação coreográfica da manifestação de um preto velho no congá. O intérprete deu conta do recado, levantou as arquibancadas, ciceroneando a agremiação diante dos turistas e público em geral.
Na bateria, a linha dos agogôs lembrou, perfeitamente, os ogans, responsáveis pelo toque de apoio aos batuqueiros, sendo que as fantasias em tom verde lembrava outro sincretismo de Jorge da Capadócia: na Bahia ele é Oxóssi, orixá da caça, da fartura, da sobrevivência.
Uma dinâmica Comissão de Frente, com cavaleiros em armaduras douradas, também causou bom impacto visual, já destacando a missão de levar a Escola para uma vitória.
Na ala das Baianas, a bandeira da Inglaterra era a nota de citar o guerreiro como seu padroeiro; o mesmo acontecendo com outra ala, a qual ostentava fantasias com as cores e escudo de Portugal e a bandeira do Brasil.
Os torcedores do Sport Club Corinthians Paulista também estão no enredo da campeã, ostentando, em suas roupas, o distintivo do clube alvi-negro.
No terreno das artes, dos incontáveis existentes, alguns destaques, mesmo subjetivamente, foram para: Jorge Amado (literatura); Jorges Benjor, Aragão, Vercilo e Veiga (samba/música); Jorge Fernandes (cinema/teatro/televisão); produção (novela Salve Jorge). Na mesma alegoria havia, ainda, a citação para a Novena de São Jorge.
No momento do desfile, uma pausa das chuvas contemplou a passagem da Mocidade Alegre, a qual também arrastou os torcedores, atrás das cordas e “sem fardas, mas com a mesma energia dos demais”.
Texto: Marcos IVan, MTb 36001 / Fotos: Edna Maischberger, Canal39)
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