EDITORIAL: Estâncias e MITs — os ovos da galinha e outras fábulas
Trabalhar é o que importa, quando se trata de turismo receptivo
Tarcísio Gomes, governador paulista, só aguarda a aprovação da ALESP para oficializar o resultado final da nova classificação dos 214 municípios turísticos paulistas. Essa classificação, baseada em pontuação técnica, retrata de maneira quase integral o nível de comprometimento — ou de acerto — de cada cidade envolvida.
Quando, nos últimos meses, surgiram sinais de que o ranqueamento seria divulgado, especialistas rapidamente perceberam que haveria mudanças significativas nas posições das cidades. E foi exatamente isso que movimentou alguns gestores das Estâncias, temerosos de perder a classificação. Muitos correram para São Paulo, instigaram deputados, conversaram com o Governo do Estado e com a Secretaria de Turismo e Viagens, anunciando depois, em tom de alívio, que haviam “evitado a queda”.
Mas preservar classificação não se resume ao que acontece entre as paredes de um gabinete municipal — e muito menos aos discursos comemorativos nas redes sociais.
Turismo receptivo exige trabalho real: comprometimento, planejamento, diálogo com quem paga impostos e maturidade para entender que governança é um processo permanente, e não um ato isolado.
Por outro lado, a má performance técnica de algumas Estâncias acabou “salvando” outras que ainda têm muito por fazer. Não foi mérito próprio: foi a deficiência alheia que acabou protegendo quem não estava tecnicamente pronto.
Entre os casos emblemáticos está a Estância Turística de Aparecida, ocupando a posição 76 das 79 consolidadas. Embora receba, em média, 12 milhões de peregrinos por ano — turistas religiosos, em linguagem técnica — a cidade não pode apoiar seu desempenho apenas na força do Santuário Nacional. Os visitantes deixam recursos relevantes em hotelaria, alimentação, mobilidade e lazer, além dos valores movimentados internamente pelo Santuário.
Ainda assim, é indispensável que Aparecida se estruture de forma mais madura, gerando um ciclo genuíno de ganha/ganha que valorize também seu morador. Profissionais técnicos não podem depender exclusivamente de nomeações de quatro anos; e os players da iniciativa privada precisam deixar de acreditar que tudo deve partir da prefeitura. O COMTUR, responsável por quase 33% da pontuação total, é peça-chave — desde que constituído, de fato, por representantes legítimos da sociedade civil e da iniciativa privada.
Guaratinguetá (71 de 79), outra Estância da Região, ao que parece levou um susto semelhante. Muito do que se percebia como “em ordem” não se sustentou tecnicamente. Há um bom volume de trabalho que ficou no vermelho — não realizado ou não comprovado.
Ilhabela, (último vagão do trem das Estâncias) destino naturalmente diferenciado, manteve-se na lista graças ao aumento do número de vagas. Mas precisa se comportar como o que realmente é: um destino singular que exige cuidados à altura de sua reputação.
Tremembé (53º lugar), que também poderia figurar entre as cidades ameaçadas, escapou pela junção de algum trabalho mais bem executado e pela desatenção de adversários diretos.
Quanto aos 70 novos MITs, o recado é simples: começa agora a parte séria. Os próximos dois anos exigirão profissionalismo intenso para disputar o status que dá acesso aos recursos do DADETUR, destinados exclusivamente ao turismo receptivo. Guarde-se a comemoração para quando houver resultados concretos — especialmente nos casos de Pindamonhangaba, Potim, Lagoinha, Lorena, Piquete e Taubaté.
É possível avançar sem atropelos. A fábula do coelho e da tartaruga nos lembra que velocidade sem direção não garante vitória. É preciso reavaliar sempre metas, equipes, recursos e processos. Sociedade civil e iniciativa privada não têm gabinete na prefeitura — e a pressa, quando mal planejada, costuma gerar favorecimentos prejudiciais, atalhos equivocados e projetos que nascem frágeis.
Dica de ouro aos gestores públicos:
Não adianta culpar antecessores. Façam melhor. Vocês têm a chance de deixar marcas positivas e permanentes.
Como ensina um velho filme de bang bang: “mortos não fazem sombra. ”
Ou seja: espaço bom é ocupado por quem trabalha, entrega e faz acontecer — em benefício da população.
Penso assim.
Marcos Ivan de Carvalho
Jornalista (MTE941.207/SP) especializado em turismo; gestor de turismo pelo IFRJ;
Membro do Conselho Deliberativo da AMITur — Associação Brasileira dos Municípios de Interesse Cultural e Turístico












