EDITORIAL: O risco de apenas exigir uma sigla
(Ou: Estâncias e MITs seriam autênticos MITs?)
Ilustração: PNGEGG.COM
Turismo merece respeito e precisa ser repensado por todos os setores do trade, inclusive e principalmente os entes gestores.
Não dispensando a responsabilidade, o comprometimento dos integrantes da chamada “iniciativa privada” e, também, “sociedade civil”.
Todos, indistintamente, têm ferramentas capazes de alavancar o turismo receptivo de suas cidades, não carecendo estarem atrelados a recursos oficiais advindos da esfera estadual ou federal. Esses recursos devem ser complementares, não principais.
A partir do momento no qual a gestão pública e o empresariado se enroscam e se tornam usuários fidelizados aos “recursos públicos” cria-se a ciranda do comodismo e ninguém mais utiliza a criatividade para promover a sustentabilidade de seus próprios negócios.
Tudo fica à mercê da chegada de verbas, do apoio para som, decoração, iluminação artistas, folders, anúncios na mídia, de modo geral, sem planejamento longevo.
Alguns gestores assumem a postura de “salvadores da pátria do turismo” criando projetos para instauração de novas responsabilidades fiscais, objetivando botar um “curativo” nas feridas dos cofres municipais.
Não resolvem nada com isso, criam animosidade junto à população, afastam o turista, minimizando o tíquete médio da cidade.
Atualmente há um falatório intenso sobre exigir a manutenção de título como “Estância Turística”, além da correria para “encaixar” um Município de Interesse Turístico na galeria dos ranqueados para merecer repasses do DADETUR.
Muito desse falatório parte única e exclusivamente de personalidades da gestão pública com pouca ou nenhuma informação técnica a respeito de como ter acesso a esse dinheiro público.
Fixam sua gritaria em ameaças dentro de supostos “direitos adquiridos”, muito mais para impressionar o povo, mesmo sabendo acontecer dentro de legislação pertinente.
A melhor política de turismo receptivo é saber entregar, à população, os melhores serviços atinentes à vocação do gestor e da máquina pública, com orçamento sadio.
Da mesma forma, é implícita vocação do empresário inteligente e conectado com o alvo dos bons resultados entender sobre entregas. Não pensem nos “velozes e furiosos” entregadores de aplicativo, os quais precisam “dar o sangue” para satisfazer mais o patrão do que o cliente.
Pensem com racionalidade, estudem soluções, profissionalizem seus colaboradores, tenham a responsabilidade de gerir seus negócios, que precisam ser os melhores negócios de sua cidade ou, até, de sua região. Esse destaque é indispensável.
Turismo receptivo é muito mais do que um calendário de meros eventos de dois ou três dias.
Turismo receptivo é ferramenta de fazer girar a economia de um município.
Em havendo essa leitura consciente, teremos muitos MITs (Municípios com Inteligência para o Turismo). Até mesmo Estâncias, muitas delas acomodadas no quadradinho, podem ser autênticos MITs, trabalhando inteligentemente projetos, discutindo-os sadiamente com os players da iniciativa privada e avaliados pela sociedade civil. Audiências públicas nunca serão demais, se forem programadas para dar voz e ouvir a população.
Evitem ser atingidos pela síndrome da escada rolante: tentar subir pelos degraus de descer.
Passando a régua:
COMTUR não é apenas verbete do dicionário de turismo; é imprescindível, a partir do momento de precisar ser e estar atuante, eficaz e eficiente além das reuniões.
Se não integrar e não representar, realmente, a comunidade, será apenas um elemento decorativo e um bonequinho de recitar “sim, senhor”.
Simples assim!
Assino:
Marcos Ivan de Carvalho, jornalista especializado em turismo; Gestor de Turismo pelo IFRJ; membro do Conselho Deliberativo da AMITur (Associação Brasileira dos Municípios de Interesse Cultural e Turístico)