EDITORIAL: Quem tem garrafas pra vender?
(Ou: como as cidades estão prontas para o verdadeiro turismo receptivo?)
Texto: Marcos Ivan de Carvalho
Ilustração: ChatGpt
O título nos remete a um bordão utilizado pelo narrador Osmar Santos e, também, a um trecho do samba “Convênio com Cupido”, de autoria do saudoso João Nogueira: “Chega pra lá, chegou a hora de ver / Quem é que tem garrafa pra vender / Na sua conversa eu não vou mais”.
Onde cabe isso, quando tratamos de turismo receptivo?
Na hora de os municípios, todos eles, promoverem um exercício pleno de acordar para a realidade das coisas e trazerem, para sua agenda cotidiana, a extrema responsabilidade de se organizarem, institucional e empresarialmente, para terem como RESPONDER aos próprios apelos por eles produzidos.
De modo geral, a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte comporta municípios considerados destinos turísticos finais ou de apoio ao turismo.
Muitos integram o elenco dos MITs ou Estâncias, somam na conformação dos Distritos ou Circuitos Turísticos, anunciam Roteiros Turísticos e participam de projetos focados nos destinos turísticos finais. É preciso atentar para isso: o simples fato de se anunciarem parceiros em algum Roteiro ou Destino Turístico não os autoriza acreditar na conquista de turistas.
Trocando em miúdos: anunciam-se capazes de promover o encantamento dos turistas dentro de seus limites territoriais, mas é preciso “conquistá-los" com propaganda inteligente, receptivo capacitado, atrativos e atrações consolidados, equipamento humano habilitado ao melhor atendimento jamais visto em qualquer outra situação.
Entretanto, e isso é muito importante destacarmos, todos são individual e coletivamente responsáveis pelo tanto de coisas turísticas por eles anunciadas.
Chegou a hora de ver, realmente, quais dessas cidades TURÍSTICAS têm “garrafas pra vender”; se estão capacitadas a atender ao turista, respeitando o dinheiro possível de ser realmente gasto pelos visitantes em muitos dos setores possíveis de serem visitados numa cidade efetivamente turística.
A iniciativa privada, por meio de suas entidades classistas, entende de promover o turismo, ofertando seu negócio de produtos ou serviços como o melhor negócio da cidade?
Reter o turista e proporcionar, à população, um tempo de entender seu comprometimento com os resultados possíveis aos moradores, como geração de emprego e renda e algum respiro nas arrecadações tributárias é urgente que se faça acontecer. A população é o motivo de se produzir as melhores ações coordenadas e planejadas para o turismo receptivo dar certo.
Os setores da sociedade civil estão desprovidos de arrogância e de olhares meramente umbilicais; já despertaram para o indispensável compartilhamento de ideias e esforços pelo turismo receptivo?
Os entes públicos desenvolvem as atividades de sua competência ou apenas se utilizam de tecnologia e discursos "da boca pra fora" para promoção pessoal, com meras ações de maquiagem e utópicos festivais?
Fica aqui o recado: municípios com vocação de cooperativismo, trabalho consciente e desarmados de política partidária, respirando motivação e, acima de tudo, com planejamento e projetos para o turismo ser seu motivo de sucesso, terão, sempre, suas “garrafas pra vender”. Farão a ENTREGA dos produtos anunciados.
Sairão no lucro, marcarão seu nome na história da Região e promoverão a efetiva geração de emprego e renda.
Se apenas alguns tiverem “garrafas pra vender”, muita coisa estará errada na condução da política pública pelo turismo receptivo.
Simples assim. Quer ficar com a culpa ou contribuir para todos serem reconhecidamente capazes de melhorar a qualidade de vida da população?
Fica a dica.
Isso não é sobre garrafas vazias...
Marcos Ivan de Carvalho, jornalista especializado em turismo, Gestor de Turismo pelo IFRJ, membro do Conselho Deliberativo da AMITur (Associação Brasileira dos Municípios de Interesse Cultural e Turístico)
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