EDITORIAL: Chorando o leite azedo derramado

(Ou: correr atrás é próprio de quem dorme na largada)

Não foi por falta de aviso e, neste caso específico, ficamos muito à vontade para destacar o tanto de alertas nós demos a respeito de o COMTUR – Conselho Municipal de Turismo de Pindamonhangaba precisar se consolidar como órgão de assessoria, procedendo sob as prerrogativas legais de ser consultivo, deliberativo e fiscalizador.

Há pelo menos seis anos vínhamos destacando isso, em textos de nosso portal ou, ainda, presencialmente durante as reuniões do referido órgão.

Sempre encontramos uma parede impenetrável de posições contrárias à nossa de querermos, voluntariamente, prestar contribuição técnica para o fortalecimento do COMTUR.

Visivelmente percebíamos não haver uma posição desarmada a respeito de como tentarem pelo menos entender nossa oferta de trabalho gratuito e qualificado.

Alertamos várias vezes sobre a necessidade de o Conselho estar abastecido de projetos viáveis, inteligentes, estudados e discutidos com a iniciativa privada e a sociedade civil, representadas naquele órgão por dois terços de seus integrantes. Projetos, por mais simples que sejam, não podem chegar resolvidos diretamente do gabinete do prefeito. No caso de Pindamonhangaba, tudo já estava “cozido e mastigado”, mesmo quando não contemplava fomento ao turismo e, sim, a satisfação de reduzida parcela de interesses e massagem de ego.

A própria estrutura do COMTUR sempre foi deficitária no tocante ao preenchimento de todas as cadeiras representativas da sociedade civil e iniciativa privada.

Sem contarmos a falta de interesse do terço representante da gestão pública.

Em gestão de turismo, quando há interesse do ente público, esse precisa precisar do COMTUR e jamais ADMINISTRAR o órgão.

Há muito tempo a governança do COMTUR parece ter perdido a mão, mesmo quando o “inventor do Novo Turismo” (leia-se inventor de eventinhos) foi tirado da Secretaria de Cultura e Turismo e injetado na Secretaria de Comunicação e Eventos.

Não houve ganho para o Turismo Receptivo de Pindamonhangaba essa ajeitada de cadeiras.

O empresariado local ainda ficou como o náufrago na ilhota já desprovida de mínima palmeira: somente a ver navios, pois evento não é turismo, não retém visitantes na cidade, não contempla a população. Simplesmente por ser planejado para simular haver ação promotora da indústria do turismo.

De quem é a culpa? De todos.

Culpa do gestor, por simplesmente se acomodar a planilhas montadinhas, descrevendo números sedutores e nada reais.

Culpa da sociedade civil e da iniciativa privada por não “marcarem terreno” e de não “enfiarem a cara” com suas ideias de fazer cada negócio ser e acontecer.

Culpa das entidades de classe, representativas dos dois terços, por não serem mais atuantes e questionadoras sobre a efetiva e eficaz existência do COMTUR.

Cada conselheiro de turismo não pode e nem deve pensar por si só. Precisa agir dentro do perfil de sua categoria de trabalho empresarial.

Agora uma gritaria invade as redes sociais com o título de “Nota de Protesto”, combatendo as ações e decisões do fabricante de eventinhos que se sobrepõem a alguma programação previamente imaginada de ser merecedora do apoio dos cofres públicos. Mesmo em se sabendo que a cidade cambaleia das pernas financeiras.

O apoio não aconteceu para grande fatia dos locais, mas acontece para alguns possíveis “estranhos no ninho”.

Motivo de ficarem injuriados? Sim, mas agora o leite já estava azedo e derramou-se.

Meter o pé no balde, arrancar fios de cabelos, botar a boca no mundo são gestos pouco produtivos.

A grande virada de mesa será se cada um se investir da certeza de que seu negócio é o melhor negócio da cidade, não mais deixar os olhos brilharem e os sorrisos fluírem quando a fala chegar do Palácio de Vidro com acenos de bandeira branca.

Desiludam-se.

Organizem-se como autênticos parceiros da mesma caminhada, criem a identidade turística de seus negócios.

Montem um “departamento de comunicação e marketing”, independendo-se dos mínimos espaços dedicados pelas verbas institucionais do município.

PROFISSIONALIZEM-SE. A Prefeitura vai sentir a diferença de tratamento para com ela e, necessariamente, entenderá que vocês merecem respeito.

Para isso, entretanto, é preciso que toda a população e todos os players de produtos e serviços entendam para que serve o COMTUR.

De uma coisa nós temos absoluta certeza: vocês perderam muito tempo acreditando em “tapinhas nas costas”.

Levantem, sacudam a poeira e deem a volta por cima.

Mostrem que são interessados no crescimento do turismo receptivo como um todo e não em reduzidas fatias.

Querem fazer uma experiência? Tirem três horas de seu tempo, mesmo num final de semana, e pesquisem presencialmente, nos diversos espaços da cidade, quem sabe o que é COMTUR e para que serve.

Simples assim: o Conselho Municipal de Turismo precisa ir além de um quadradinho no jornal oficial da cidade. Merece botar seu nome na história da verdadeira construção do perfil turístico receptivo de Pindamonhangaba. Não pode apenas ver seu logotipo na publicidade institucional.

Com muito respeito, por acreditar que há a possibilidade de não mais precisarem de meros favores da prefeitura e, sim, de muito respeito.

Mas façam a sua parte, como a mais importante tarefa de casa, de cada dia.

Turismo não é evento.

É negócio que pode fazer todos ganharem com cada negócio e acabar com esse negócio de só a prefeitura querer ficar com os aplausos.

Só para lembrar: a cidade vai ser classificada como MIT – Município de Interesse Turístico, e será, por enquanto, um título somente.

Após o governador sancionar a Lei, haverá um bom tempo de espera. As verbas, para projetos selecionados, só chegam com o aval de um COMTUR consistente e autêntico que conseguir colocar sua cidade dentro do ranqueamento de 2027.

Daí a prefeitura vai precisar de um COMTUR deliberativo, consultivo e fiscalizador com personalidade e identidade própria.

Será aí a prova de que vocês viraram a mesa e botaram as coisas no lugar.

Simples assim.

___

Marcos Ivan de Carvalho

Jornalista especializado em turismo

Gestor de Turismo pelo IFRJ/MTur/MEC

Membro do Conselho Deliberativo da AMITur (Associação Brasileira dos Municípios de Interesse Cultural e Turístico)

 

Comentários