Editorial: Reflexão para quem deseja ver turismo ferroviário em Pindamonhangaba
Na verdade, nem é realmente um editorial, mas, sim, alguns itens a serem motivo de reflexão:
Pensemos em voz alta:
01 - As audiências públicas para apresentação do projeto de concessão da Estrada de Ferro Campos do Jordão aconteceram presencialmente e on-line, com publicação antecipada para os interessados se inscreverem. Ninguém da Prefeitura de Pindamonhangaba, da Câmara de Vereadores, ACIP e Conselhos Municipais e de qualquer outra instituição se inscreveu para participar. Não levaram a sério o convite ou alegarão desconhecimento?
02 - Quando houve a apresentação do projeto ao Prefeito de Pindamonhangaba, este se preocupou em convidar representantes da sociedade civil para acompanharem a apresentação? O mesmo deve ser considerado quanto aos vereadores. Historicamente existe algum movimento organizado pelos empresários locais, de quaisquer segmentos de economia, interessados em provocar ações para a manutenção da ferrovia?
03 – Dentro da gestão municipal do turismo, há registro de planejamento para fomentar o turismo ferroviário pela EFCJ, considerando infraestrutura urbana, área para estacionamento, e indispensáveis ações no sentido de se reter o turista na cidade, pelo menos por dois dias antes de sua viagem serra acima? Do contrário, mesmo com a ferrovia funcionando em seus 47km, o dinheiro dos turistas vai ser gasto em Santo Antônio do Pinhal e Campos do Jordão.
04 – Há um programa de capacitação de profissionais, em todos os segmentos do trade turístico, para termos excelência em receber turistas?
05 – Há um programa de se fomentar o funcionamento do comércio capaz de atender à demanda possivelmente gerada quando da visita de turistas para viagens pela Estradinha? Notável é o centro da cidade, principalmente, estar quase que totalmente deserto nos finais de semana.
06 – Alguma das autoridades ou do trade turístico já pensou “fora da caixinha”? Se não houver o trem turístico para Campos do Jordão, por qual razão não pensarmos em criar um circuito turístico doméstico, até o Piracuama, com uma composição tracionada por Maria Fumaça, vagões típicos, com restaurante a bordo e/ou cafeteria, atendendo aos turistas? Temos possibilidade de explorar, até, algumas paradas para valorizar a economia criativa, a agricultura familiar e contemplação da natureza.
07 – O Parque Reino das Águas Claras, objeto da concessão e com acesso livre à população, poderá ser um local para lazer, diversão, com exploração de equipamentos e gastronomia, sem a possibilidade de vir a ser, imediatamente, um balneário, por conta das águas poluídas.
08 – Pela projeção do projeto apresentado, o investidor concessionário terá a obrigação de revitalizar e manter toda a extensão da ferrovia, mas não fazer os trens partirem de Pindamonhangaba já nos primeiros anos de trabalho. Simplesmente por ser o trecho mais longo e demandando mais investimentos. Investir em Campos do Jordão é a maneira de “fazer dinheiro” (ter retorno) para trabalhar o restante do percurso. Há quem não entenda sobre isso.
Resumindo: Campos do Jordão e Santo Antônio do Pinhal continuaram trabalhando o turismo mesmo quando lhes faltou a ferrovia. Isso é inteligente, com o envolvimento da sociedade civil, dos empresários locais. Pindamonhangaba, por gestões, não cuidou da ferrovia e agora fica a ver navios...
E tem muita gente subindo no tijolinho e querendo fazer discurso meramente político, nada tecnicamente produtivo.
Simples assim.
Assino:
Marcos Ivan de Carvalho, jornalista especializado em Turismo, MTE91.207/SP
Gestor de Turismo pelo IFRJ/MTur/MEC
Membro do Conselho Deliberativo da AMITur (Associação Brasileira dos Municípios de Interesse Cultural e Turístico)
Filiado à ABRAJET-SP (Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo, seccional SP)