EDITORIAL: O risco de criar riscos no Mercado de Pindamonhangaba
(Ou: nem tudo que reluz é ouro. (Ou: tem gente errada no lugar errado.) (Ou: o medo de acertar é acertar na certeza de errar?))
"Lá vem o jornalista independente buzinar mais “nas orêias da gente”!
Ouvi isso, pelo menos duas vezes, quando percebi pessoas da anterior e da atual gestão comentando sobre nosso trabalho de jornalismo independente sobre turismo e cultura.
Entretanto, quando “os orelhudos” se dispõem a se expor ao crivo da opinião pública, compete aos pagadores de impostos, e geradores de rendas para os mesmos orelhas grandes, manifestarem sua insatisfação ou, se meritório, acrescentar mais um item à minguada página de elogios.
Vamos ao prato do mês:
Decidiram “investir” alguns recursos na reforma (re – for – ma) ou restauração (res – tau- ra – ção) do piso da área interna do Mercado Municipal.
(Parênteses aqui: em qualquer cidade, principalmente interiorana, um atrativo cultural, turístico, histórico e mantenedor das tradições de um povo é o próprio público (local/prédio) onde se concentram (ainda) as primeiras manifestações de comércio popular: peixarias, açougues, pastelarias, restaurantes, tabacaria, caldo de cana, torresmo, papelaria histórica (ícone para muitas famílias com foco nos estudos dos filhos)).
Os detalhes da arquitetura se juntam aos propósitos de os comércios ali instalados, além da obtenção de sua sobrevivência, conservarem esse protagonismo do “Mercadão” de Pindamonhangaba.
Daí, na corrida pela posição de “representante do povo”, um vereador destina recursos para a reconstrução (re – cons- tru – ção) do piso do Mercado Municipal de Pindamonhangaba.
Deixemos de lado as tratativas burocráticas dessa destinação de verbas e nos apeguemos a alguns detalhes MUITO MAIS IMPORTANTES, se formos considerar o respeito que a História e a Cultura da cidade merecem. (Apesar de a cultura de agora, tanto no Legislativo como no Executivo, ser tão minúscula, por assoberbar-se de cuidados meramente umbilicais nada pelo coletivo).
Não nos consta ter havido algum tipo de consulta aos Conselhos Municipais diretamente envolvidos com o caso: Conselho Municipal de Cultura, Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Conselho Municipal de Turismo. Aliás, em se tratando de Conselhos Municipais, parece estes não terem muito espaço e visibilidade junto às duas gestões (anterior e atual). (Percepção nossa, favor atentar para isso).
RESULTADO: Desfiguraram completamente o piso do Mercado Municipal de Pindamonhangaba, no tocante às suas características de antiguidade e tradição. Aplicaram um piso em porcelanato, muito brilhante e lisinho. Naturalmente escorregadio por não ter a mínima porosidade.
FALTA DE INTELIGÊNCIA: O piso aplicado não é inteligentemente destinado a um local onde o público frequentador é o apreciador das coisas simples, práticas. O povo, pagador de impostos, se identifica com o local por ser um pouco de sua história de vida. Faltou essa devida consideração / visão empática. Mesmo os turistas "de fora" buscam "mercadões" para entenderem mais sobre tradições regionais.
Após algumas muitas manifestações de formadores de opinião, a gestão acordou para "entender" (será?) o porcelanato um produto caro e "nada a ver" com o local.
Risco de quedas, por escorregões, foi elencado pelos populares e aconteceu a decisão de instalarem gradis para o período de aplicação do pouco inteligente piso, na tentativa de oferecer um pouco de segurança.
Aplicaram, também, fitas antiderrapantes, absurdamente espaçadas uma da outra. Houve um comentário nas redes sociais dizendo que as fitas eram tão distanes, uma da outra, que pareciam cenário de prova de salto triplo. Lembrou-nos João do Pulo...
No tempo colonial, um trabalho mal feito era considerado “nas coxas”. Atualmente, é simplesmente “acho que é assim, assim será”.
FALTA DE PLANEJAMENTO.
Os próprios gradis, instalados para delimitar a circulação das pessoas, podem ser perigosos, pois seus apoios são perpendiculares à grade e, comprovadamente, provocam quedas por tropeções>
Acabou, jornalista buzinador?
Não. Depois de tudo finalizado, com uma suposta “resina antiderrapante” aplicada sobre o lindão piso de porcelanato, será instalado o piso podo tátil, beneficiando os deficientes visuais?
Ou a deficiência visual dos responsáveis por isso também cochilou e escorregou na maionese?
(Agora pensei em mais algo: quem fará a manutenção do piso? Precisa ser empresa ou pessoa especializada. Seria mais um armário cheio de cabides de emprego?)
Aliás, a cidade passa por uma febre de reformas, reconstruções e reparos arquitetônicos, mesmo os particulares, sem nenhuma fiscalização ou licença do setor de posturas...
Acordem, gestores. Não esperem o restante dos quatro anos para fazerem mais discursos bonitinhos, ilustrados com fotos, inclusive do desrespeitado Mercado Municipal.
Façam valer as falas de cuidarem do povo.
Simplesmente por ser, O POVO, o seu PATRÃO.
Patrão traído, cargo político tem risco de ser preterido.
Turismo, Cultura e Tradição não cabem num simples gabinete ou num simples destinar de verbas.
Merecem projetos pensados, discutidos, com audiências públicas.
Ou, para os senhores ocupantes das cadeiras públicas, o povo é mero coadjuvante?
Assino:
Marcos Ivan de Carvalho, jornalista independente MTb91.207/SP; Gestor de Turismo pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro/MTur/MEC; membro do Conselho Deliberativo da AMITur (Associação Brasileira dos Municípios de Interesse Cultural e Turístico; filiado à ABRAJET/SP (Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo).
Autorizada a reprodução com os devidos créditos e sem recortes.