LEMBRANÇA: Cinema em casa
Imersão numa das gavetas da memória afetiva
Texto: Marcos Ivan de Carvalho
Eram tempos de Gato Félix, Os Sobrinhos do Capitão, Pernalonga e Gaguinho, Super Mouse...
Também tempos de revistas como O Cruzeiro e jornais do tipo Última Hora...
Não tínhamos muito dinheiro para irmos às matinês de domingo.
Meu irmão mais velho, o Telmo, vendo um anúncio num desses veículos impressos, encontrou o Cine Barlam, maquininha de cineminha doméstico.
Criativo, meio cientista inventor, namorou o Cine Barlam por algum tempo, até emprestou um de um amigo, para mostrar alguns desenhos quase animados para nós todos da família.
Depois de “entender” como funcionava o aparelho, dedicou-se em criar um genérico, econômico e funcional.
Arranjou uma caixa de sapatos, um tubinho de papelão (parecido com aqueles de papel higiênico), um soquete com lâmpada, fio e plugue para tomada elétrica. Num segundo momento, folha de papel de seda branco, lápis de cor e caneta, dois lápis novos e lentes de óculos.
Acabara de construir o nosso cineminha. O mano recortava o papel de seda, desenhava ou “colava” dos gibis os quadrinhos em sequência e montava o “reel” a ser projetado. A tração da “fita com o filminho” era manual, e o material saía de um lápis para outro.
Como não tínhamos muito know how, a lâmpada superaquecia o papel e o filme queimava, igual nos cinemas de verdade.
Foi divertido, durou pouco, mas marcou alguns quadrinhos de nossa moleca infância/juventude.
As lentes de óculos nós usávamos, também, para focar a luz do sol sobre papéis, palitos de fósforos, fazendo-os queimar.
Às vezes, sem querer querendo, focávamos a luz solar sobre a pele de algum amigo moleque. Queimava mesmo.
Um dia, na escola, um colega nosso acendeu uma fogueira com o mesmo princípio das lentes de óculos.
Pode parecer diferente, mas os fatos antigos tornaram-se novos em uma das gavetas de minhas lembranças mais afetivas.
Contarei muito mais no meu próximo projeto literário “Papo de Jacaré”.
Marcos Ivan.