ESTREIA: Sobre esquinas do passado e crianças de agora.

Textos autorais de Marcos Ivan de Carvalho devidamente protegidos por registro de propriedade intelectual.

Logo ali, depois de algumas esquinas do passado, encontrei-me face to face com a banca de jornal e revistas, à época única em Pindamonhangaba, cidade onde morava e ainda moro.

Parte integrante do Brasília Lanches, a banca era ponto de encontro dos jovens, aos sábados, para terem atualizada a sua coleção de gibis. Kid Colt, Jim das Selvas, Capitão Marvel, Zorro, Roy Rogers... Tinha a revista do justiceiro nacional: Jerônimo, o herói do sertão. Recruta Zero era mais uma pedida legal!

Sem contarmos Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey e toda a “patota” Disney. Flash Gordon seduzia o imaginário da moçada com seu “teleporter” e o precursor dos celulares de agora.

Havia, ainda, o gibi do Homem Submarino (Namor), do Homem de Borracha, Popeye, Os Sobrinhos do Capitão, Pinduca. Lilly, a modelo, era até um bom tanto algo muito de sensualidade para a juventude daqueles tempos.

Devorávamos os gibis entre o sábado e a manhã de domingo, num exercício de leitura dinâmica, para, na matinê do Cine Brasil, trocar alguns nossos por alguns de outros colegas.

Um quase mantra acontecia entre todos. “Já li, não li, já li, já li” era verdadeiro ritual, enquanto o amigo mostrava as capas das revistas, mudando a pilha de um lado para outro num dos bancos da praça ou fazendo malabarismo para suportar tudo, prendendo uma parte da pilha com o queixo.

Mesmo na fila para comprar ingressos, a troca de gibis continuava. Caderneta de estudante no bolso da “calça americana” Far West (as da Levis ou as Lee eram para os mais abastados), dinheiro trocado no bolso da camisa, sempre com uma reserva para os chicletes Adams, de hortelã. Os de mais posse compravam, além dos chicletes, os cigarrinhos de chocolate Pan, gomas Mentex e um Diamante Negro.

Durante a sessão, composta de um trailer de filme a chegar à cidade, seguido de um dos clássicos jornais do Canal100 mostrando eventos da glamorosa high society da época, ações envolvendo autoridades e uma indispensável resenha de alguma partida de futebol, normalmente filmada no Estádio do Maracanã e com narração impecável de um dos muitos locutores, destacando-se (por bom tempo) o taubateano Cid Moreira.

Seguia-se um filme em série (Lembro-me de uma cena na qual o herói lutava com o bandidão a bordo de um avião monomotor. O aviãozinho balançava feito pluma ao vento... Aí entrava uma fala em inglês e um banner no meio da tela anunciando “o Capitão “Me Esqueci do Nome” conseguirá escapar”?

Fechando o programa da matinê, um bangue bangue em preto e branco. Durango Kid era meu preferido...

O celular assobiou um aviso de WhatsApp, mas decidi arriscar mais uns passos pelas calçadas da saudade...

Manchete! Meu irmão mais velho adorava ler essa revista. Nós, de carona, também. Assim como apreciávamos O Cruzeiro (com o Amigo da Onça e os impecáveis textos de Millôr Fernandes) e a Seleções do Reader’s Digest. Depois vieram Fatos & Fotos e Realidade. De quebra, não na mesma ordem temporal, lemos muitas Historinhas Semanais...

Da Manchete, lembro-me da coluna do médico Pedro Bloch: Criança diz cada uma...

E diz mesmo.

Um experiência mais recente, algumas falas dos netos e filhos de conhecidos.

Vinícius, no colo da vovó, aponta para a lua cheia e diz:

- Olha vó, a lua!

- É mesmo, que legal Vini...

- Mas não é de comer, viu vó?

Matheus chega em casa, após a escola, abre a mochila e avisa a mãe:

- Tem tarefa hoje, mãe. Você me ajuda?

- Claro filho, qual é?

- Entrevistar você...

Iniciada a entrevista, com a mamãe lendo as perguntas e Matheus anotando as respostas.

- Matheus, aqui está perguntando qual é o prato preferido da mamãe. Você sabe?

- Sei. Prato de vidro...

Silvinho corre no pátio da escola, com amiguinhos, atrás de uma bola plástica.

- Péra! “Parum poco”...

Todos param de correr e o garoto levanta do chão um pedaço de vidro quebrado.

- Viu turma, que perigo?

A professora afaga a cabeça do menino e o elogia:

- Sim, garoto, um caco de vidro é perigoso...

- É mesmo, ‘né tia? Já pensou se fura a bola? Ia estragar nossa brincadeira...

Agora o Whatts está insistindo, preciso ver.

Até outra hora.

(Próximo "capítulo": A lenda do cordão de fogo).

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Texto: Marcos Ivan de Carvalho

Jornalista independente, MTb91.207/SP

Gestor de Turismo

Conselheiro da AMITur

Escritor

Publicitário

Filho adotivo de Pindamonhangaba.

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