EDITORIAL: Como não afundar o barco do turismo receptivo

(Ou: o prefeito de Pindamonhangaba não entende nada de turismo receptivo)

Durante sua visita ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, por ocasião da Festa da Padroeira, o governador Tarcísio de Freitas fez o anúncio das ações pensadas para a chegada da Rodovia Carvalho Pinto, num primeiro momento, até a Capital Mariana do país.

Tarcísio disse ter autorizado o início do projeto de engenharia, com previsão de conclusão em vinte meses. Posteriormente seriam começadas as obras “de prolongamento até Aparecida, com acesso para Pindamonhangaba”.

Daí, os oportunistas sob a aba do sucesso de Tarcísio, liderados pelo prefeito de Pindamonhangaba, começam a formatar postagens um bom tanto desconectadas do principal objetivo da extensão da rodovia, que é o de levar turistas/peregrinos ao destino final: Aparecida. Posteriormente haverá um segundo destino principal: Cachoeira Paulista, forte no considerado Turismo Religioso ou de Peregrinação.

Há a necessidade de se considerar a Estância Turística de Guaratinguetá como também beneficiada, mesmo para quando ocorrer o segundo momento (extensão até Cachoeira Paulista).

Vamos focar a análise para o trade turístico.

A rodovia, após estendida e com acesso a Pindamonhangaba, não é garantia de o turismo local estar apto a atender à demanda.

Pindamonhangaba tem prefeito atual e conseguiu eleger sucessor de um mesmo partido  aliado ao do governador. Entretanto, nenhum dos dois políticos locais tem visão administrativa com conhecimentos básicos sobre turismo receptivo.

Derramam discursos, muitas vezes vazios de informações (mesmo tendo um especialista em engabelações como o é o Secretário Adjunto de Turismo), afirmando que a cidade vai ser Município de Interesse Turístico. O prefeito não deve saber qual a finalidade dessa classificação, pois já afirmou publicamente que os repasses do Estado, para os MITs, é insuficiente.

Os mesmos dois, e seus comissionados, não têm visão autêntica para gerir o turismo receptivo local, haja vista quererem melhorar as ações referentes às trilhas de peregrinação como Caminho da Fé, Rota da Luz, dentre outras, sem terem mecanismos de reter os turistas na cidade pelo menos por um dia.

Não têm consistência nas tratativas com o empresariado local, contemplam muitos empreendedores de outras cidades, por meio de eventos com gastronomia food truck, subestimam o autêntico valor do Patrimônio Histórico local. Só para um exemplo: o Palacete Tiradentes, apesar de ser de propriedade particular, está se deteriorando e a gestão nada faz para a sua preservação, apesar de ser responsabilidade do administrador providenciar as ações necessárias para isso acontecer.

Sem falarmos na Igreja São José, Bosque da Princesa, Museu Histórico e Pedagógico; mobilidade urbana; acessibilidade; caminhabilidade; sinalização; infraestrutura viária, etc.

É preciso criar a necessidade de todos os turistas pararem em Pindamonhangaba, para pernoite, consumindo produtos e serviços locais. Pelo menos por um dia.

Sem contarmos o pouco caso com o qual tratam o Conselho Municipal de Turismo, o COMTUR, um órgão instituído por lei e com prerrogativas de ser consultivo, deliberativo e fiscalizador. Parece que essa identidade do COMTUR não tem a simpatia dos gestores, pois tudo se decide no palácio de cristal. Essa é uma percepção nossa, não falamos pelo Conselho.

É preciso romper o cordão umbilical, o qual prende o empresariado local às ações da Prefeitura. Urgente é o empresariado mostrar sua força e consolidar a inversão de valores: a Prefeitura precisa depender dos empresários para consolidar uma política pública para o Turismo Receptivo.

Já passou da hora de tudo sair de um gabinete, sem a participação popular e empresarial. A não ser que os lucros possíveis precisem ser canalizados só para um lado obscuro das coisas, enquanto o resto do povo fica a ver navios da esperança afundarem no mar da incompetência.

Turismo Receptivo acontece quando acabam as caronas nas ações de autoridades comprometidas e se consolida o real interesse para deixarmos um legado de qualidade a todos quantos moram em Pindamonhangaba.

Simplesmente porque, quando é para dar certo de verdade e com transparência, todos ganham com o turismo. Desde o pipoqueiro até o dono do melhor hotel da cidade. Hoje isso não acontece, pois “eventos” não movimentam o turismo. Apenas engordam algumas contas bancárias, sem nenhuma mensagem subliminar aqui.

A gestão nem precisa entrar no pacote, pois fomentar o turismo é de sua total responsabilidade. Precisa ter vocação, com um time tecnicamente formatado, isenção de bandeira partidária, excelente trânsito nas esferas estaduais e federais, cumprindo e fazendo cumprir as leis estabelecidas para a gestão do turismo.

Sair do comodismo político umbilical e valorizar Pindamonhangaba, estudando e utilizando a Nova Lei Geral do Turismo.

Essa é a receita de promover o sucesso em todos os segmentos da economia local, principalmente no Turismo Receptivo.

Nunca é demasiado tarde para melhorar a história do turismo receptivo de nossa cidade. Basta entender que "eventos" não promovem o turismo. É preciso muito mais, para demonstrar respeito aos microempreendedores, principalmente.

(Marcos Ivan de Carvalho, jornalista independente especializado em Turismo.

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