OPINIÃO: O axiomático saindo dos trilhos

A síndrome quadrienal atropelando o óbvio

As ações destinadas à valorização do turismo ferroviário estão ganhando, cada vez mais, impulso por conta das Parcerias Público Privadas e a promoção, natural e coerente, da substituição de algum tipo de tecnologia e equipamentos.

Um dos momentos mais recentes, no cenário do turismo ferroviário, foi o anúncio do projeto SP nos Trilhos, com os trens intercidades, incluindo o trecho SP/São José dos Campos. Em estudos, contido no mesmo projeto, o trecho São José dos Campos/Taubaté.

Projetos completamente estruturados com tecnologia moderna para o modal ferroviário, especialmente voltados para fomentar o turismo.

Sem nenhum “de repente” e talvez por conta da síndrome quadrienal surgem, nas redes sociais, discursos pleiteando a volta imediata dos serviços da Estrada de Ferro Campos do Jordão principalmente no setor suburbano das terras dos anzóis.

Provavelmente os possíveis envolvidos nas falas pela retomada imediata do funcionamento da Estradinha, apesar da velocidade e abrangência dos modernos meios de comunicação, não tenham acesso às reais informações sobre o estado de conservação dos equipamentos da histórica ferrovia e os procedimentos em evidência no intuito de acontecer, sim, o retorno das suas atividades definidas em necessário edital de licitação (leilão).

As falas pela retomada imediata contrapõem-se ao ideal fluxo das coisas, haja vista ter sido desenvolvida ação, pelo governo do estado de São Paulo, no intuito de serem aplicados inteligentemente e com projeto bem planejado, os R$ 160 milhões previstos para a revitalização da Estradinha após sua privatização.

Cabe destacarmos o interesse dos futuros participantes do processo de concessão para a exploração do turismo ferroviário, pelas próprias características do cenário natural reinante. Consta-nos existirem alguns consórcios especializados, inclusive com capital estrangeiro, à espera do referido edital

Naturalmente essa privatização se faz necessária, dentro das quatro linhas da legislação, proporcionando a oportunidade de a EFCJ reposicionar-se nos trilhos da história como equipamento do turismo ferroviário, com segurança e conforto, ao longo da subida até Campos do Jordão, oferecendo aos passageiros a contemplação de belas paisagens e, sem dúvida nenhuma, com algumas paradas estratégicas em mirantes construídos e equipados com infraestrutura ideal, viabilizando mais conforto e experiências positivas a todos.

Cabe, nesses estudos, o Parque Reino das Águas Claras.

Espaços possíveis de se divulgar o artesanato, a gastronomia regional, gerando emprego e renda.

A imediata retomada dos serviços é simplesmente inviável e demandaria, se paliativamente possível fosse, investimento muito alto por parte dos cofres públicos além de não ser possível atingir padrão de excelência desejado, logicamente, da iniciativa privada.

Óbvio, quando do funcionamento da Estrada de Ferro Campos do Jordão, é Pindamonhangaba ter estrutura receptiva para acolher os turistas antes de eles seguirem, por ferrovia, até o chão das terras do Jordão. Aliás, essa obviedade é urgente, antes mesmo de vir a acontecer a privatização da EFCJ.

Todos os setores da economia local precisam estar ca-pa-ci-ta-dos para essa novíssima realidade da querida Estradinha.

Faz-se urgente a atitude de se promover ação coletiva dos atores da iniciativa privada local, os empresários de modo geral, no sentido de oferecerem respostas concretas a respeito da plena capacidade de atendimento, em Pindamonhangaba, dos setores envolvidos com o turismo: meios de hospedagem, alimentação, atrativos formatados e naturais, mobilidade urbana, sinalização turística organizada e eficiente, posto de informações turísticas com Guias de Turismo e acessibilidade; profissionais Guias de Turismo atuantes para o guiamento local, atendimento de emergência. Além de todas as outras atividades capazes de atenderem às necessidades imediatas de todos os cidadãos.

É preciso enfrentar esse desafio: reter os turistas em Pindamonhangaba por ao menos dois dias, motivando-os a gastarem parte de seu combustível financeiro em estabelecimentos da cidade.  

Do contrário, de nada adiantará a ferrovia estar em funcionamento, em sua versão “trem de subúrbio”.

A concessão é inevitável, é axiomática, irreversível. Ponto final.

O pleito pela retomada imediata, apesar de ser direito constitucional, não contempla as reais vantagens da privatização e tem, até, alguma conotação de “síndrome quadrienal”.

No dia 13 de maio último a reportagem da Revista39 Digital e do Canal39 recebeu da Assessoria de Imprensa da Secretaria de Parcerias em Investimentos, a seguinte NOTA:

“A Secretaria de Parcerias em Investimentos informa que a concessão da Estrada de Ferro Campos do Jordão foi qualificada no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI-SP) e, neste momento, passa por estudos pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Após a conclusão, o projeto será apresentado à população, via audiência pública, para colher contribuições e sugestões, além de tirar dúvidas dos participantes.

O projeto contempla 47 quilômetros de ferrovia, o Parque Reino das Águas Claras e o Museu de Memória Ferroviária. O ativo possui alto potencial de turismo, principalmente com parques estaduais concedidos (Campos do Jordão e Capivari), e é de suma importância para o desenvolvimento regional”.

Fica a dica: tentar obter a volta imediata da Estrada de Ferro Campos do Jordão tem efeito ilusório e não resultará positivo por sua potencial limitação de abrangência.

Não será a solução definitiva, haja vista demandar, posteriormente, mais investimentos na adequação, modernização, capacitação humana, todos os recursos de acessibilidade, dentre inúmeros outros detalhes imprescindíveis.

Pontuações de viabilidade real com investimentos da iniciativa privada.

Simples assim.

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Marcos Ivan de Carvalho

Jornalista especializado em Turismo, MTb91.207/SP

Filiado à ABRAJET – Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo

Gestor de Turismo pelo IFRJ/MEC/MTur

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