EDITORIAL: Quando a imprensa especializada não tem peso

(Ou: podem até tentar calar quem estuda e não tem rabo preso...)

Está em ata do Conselho Municipal de Turismo de Pindamonhangaba: “Esclarecimento de que não vemos a imprensa como representante da sociedade civil uma vez que a representação da sociedade e composta por empresários diretamente ligados a vocação turística do município”. (Ata da 39ª reunião, em 08/12/2020).

Essa posição foi por conta de pleito formal apresentado para ocupação de um assento como representante da imprensa especializada.

Da mesma época ouvimos, de um representante da gestão sobre as canetas dos técnicos da SETUR-SP não terem “peso”.

Durante cerca de quatro anos frequentamos as reuniões do COMTUR de Pindamonhangaba o qual, além de não desenvolver projetos adequados ao fomento do turismo receptivo, optava por acolher – tão somente – as ações desenvolvidas pelo setor de Turismo da municipalidade.

Fomos convidados a voltar a prestar serviços de publicidade institucional à prefeitura, com a oferta de um considerável valor mensal. Por conta de nossa linha editorial, essa proposta não resultou em flores.

Hoje, apesar de nova governança, o COMTUR continua incompleto e ainda não acatou o pleito da ABRAJET – Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo pela criação de um assento o qual seria ocupado por seu representante na cidade. Mais uma vez os mesmos inflamados “conselheiros” optaram pela não acolhida, quase não deixando a presidente da entidade terminar sua fala de apresentação e pleito.

Mesmo não considerados como voluntários pelo turismo receptivo local, continuamos pesquisando, estudando e escrevendo nossa opinião (algumas vezes com ares de consultoria).

Daí, chega-nos às mãos e aos olhos uma resolução da Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, a de número 6/2024, estabelecendo a denominada matriz de avaliação do ranqueamento dos Municípios Turísticos.

Um documento longo, extremamente explicativo, definindo os padrões para estabelecimento oficial dos Municípios Turísticos (Estâncias e MITs (Municípios de Interesse Turístico)).

Por categoria (faixa) populacional, Pindamonhangaba está posicionada em 48º lugar no Estado de São Paulo. Insere-se no segmento de 150.001 a 200.000 habitantes. (IBGE no Diário Oficial da União em 28 de junho de 2023)

Nesse “pacote” estão mais 11 cidades e, dessas, 03 são Estâncias Turísticas, 03 não apresentaram projeto para classificação como MIT, 02 tiveram seus projetos devolvidos ou reprovados.

Então, concorrem com Pindamonhangaba: Mogi Guaçu, Santana de Parnaíba, Santa Bárbara D’Oeste. Ou seja, de doze na mesma faixa de população apenas quatro participam do ranqueamento.

Não há vantagem inicial para nenhum destes quatro municípios.

Entretanto, há a notória perda de inúmeros pontos, caso não se cumpram as exigências/recomendações dos técnicos formatadores da matriz publicada.

Algumas pontuações possíveis:

Turismo Rural: até cinco pontos

Abertura do comércio aos domingos e feriados: 2 pontos

Parques temáticos: 3 pontos

Turismo ferroviário: 3 pontos (Não pensem na possibilidade da Estrada de Ferro Campos do Jordão)

Meios de hospedagem com Cadastur: até 5 pontos, dependendo da quantidade

Número de restaurantes turísticos: máximo de 2,5 pontos (51 ou mais locais)

Posto de informações turísticas com funcionamento aos finais de semana: 01 ponto

(Em Pindamonhangaba há um no shopping, quase sempre às moscas e cumprindo horário dos servidores)

Todos os itens cotejados pelos técnicos são considerados como tendo infraestrutura básica de receptivo, inclusive sanitários e sinalização, além de condutor turístico.

Dissemos, em falas anteriores, sobre o peso do COMTUR para a classificação de um MIT.

Vejam o definido pela matriz agora publicada:

Assim,  a ideia praticamente fixa de se poder ter apoio naquela ultrapassada máxima de “quem tem padrinho não morre pagão” cai por terra e, devido à propalada tecnologia da informação os números, gráficos e valores outros podem ser checados presencial ou remotamente, por meio de criteriosa amostragem. Padrinhos políticos não terão muita influência nos resultados, até mesmo por conta de serem muitos municípios candidatos a merecer os repasses do DADETUR para o fomento de seu turismo. Todos os responsáveis, de cada município, estarão de olho como verdadeiros fiscais.

Além de necessidade de se respeitar, fielmente, a categorização estabelecida pelos profissionais técnicos do GAMT – Grupo de Análise Técnica dos Municípios de Interesse Turístico.

Só para destacar: as informações contidas em cada Plano Diretor de Turismo Revisional obrigatoriamente serão verificadas e, em havendo a “inserção de dado inverídico” o município será penalizado com 5 vezes o valor do item irregular (vale 1, perde 5).

Arrematando:

Ainda nos parece haver um bom tanto de individualismo, falta de senso de comunidade, humildade (pisada pela arrogância ou falta de real conhecimento) de alguns dos conselheiros mais “especializados” do COMTUR de Pindamonhangaba.

O pouco caso com o turismo receptivo chega às falas do chefe do Executivo quando ele afirma, em entrevista a importante programa de notícias, na midia regional, sobre o valor insuficiente dos repasses do DADETUR para os Municípios de Interesse Turístico. Por qual motivo, então, gasta um bom dinheiro para ser MIT? Promoção pessoal?

Parece piada, mas é a triste realidade: o prefeito pensa os repasses de recursos virem a ser destinados às contas comuns da prefeitura. Não o são.

Deverão pagar a realização de projetos estudados, analisados, discutidos, deliberados e aprovados pelo COMTUR e a este compete, também, a fiscalização do bom e correto uso do dinheiro.

Se nada disso for observado, urgentemente, haja vista o ranqueamento já estar em sua reta final e as planilhas finais acontecendo já em abril, pisem nos freios da pretensão desmedida e aprendam a planejar melhor, sem decisões umbilicais, em vez de inteligentes.

Tecnologia sem uso inteligente por meio da capacitação é mera ferramenta de publicidade tipo “cortina de fumaça”. Se der resultados, será apenas para quem a utiliza assim.

Se, em 2017, tivessem tomado as providências exigidas pelos técnicos, Pindamonhangaba poderia estar MIT. Perderam um ano inteiro...

Hoje, além das exigências, falta muita coisa a ser feita corretamente e não com o gasto desnecessário com a instalação de cartazes nos pontos de ônibus municipais.

Assino:

Marcos Ivan de Carvalho

Jornalista especializado em Turismo, MTb91.207/SP

Filiado à ABRAJET – SP

Gestor de Turismo pelo IFRJ

Publicitário MTb 6631/SP

Filho adotivo, apaixonado por Pindamonhangaba.

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