EDITORIAL: As forças da natureza e a natureza das forças
(Ou: quando a arrogância transborda e não dá razão à sabedoria dos humildes)
Caiu o pórtico da cidade onde se fabricam anzóis.
Ele foi instalado por conta do desejo do gestor público em “dar uma cara nova à entrada do município”.
Com um custo estimado de R$ 800 mil, segundo fontes próximas à administração, foi erigido por conta de uma das muitas “permutas” de interesse da comunidade. A empresa “parceira” ganhou uma área de terreno em zona industrial.
O design (se isso estiver no elenco de desenhos modernos) significaria “a terra dos anzóis” (ganhou apelido de Wolverine) e conceituaria o perfil de novos modos para a cidade, inclusive humanização.
A previsão era, após concluído, de instalação de recursos tecnológicos para monitoramento de segurança, completando-se com deck e área de gastronomia.
Apesar das falas oficiais, inevitavelmente jogando confetes sobre a estrutura e sua aparente vocação de bem receber, tornou-se mais um trambolho sintetizador da incongruência entre o lógico e a arrogância.
Lógico seria uma consulta pública, com a participação de urbanistas e designers, até mesmo em formato de concurso para a escolha do Pórtico da Cidade.
O contrário: Instalaram um esqueleto metálico revestido de chapas metálicas porcamente fixadas com rebites ou inconsistentes pontos de solda.
Técnicos em estruturas olhavam aquele monstrengo e previam um possível acidente pelo desprendimento de material.
Bola cantada, fala repudiada em nome “da politicagem” dos inconformados, um vendaval um pouco mais forte, em 2021, provocou o rompimento de alguns fixadores e as chapas começaram a se soltar.
Num processo de “restauração” refizeram a fixação do material e bateram no peito, “tipo assim”: – Viram só? Só um probleminha.
Se o tempo não para, o vento não falha e já havia deixado o recadinho para os incompetentes.
Então, sob vendaval capaz de assustar e preocupar muita gente, os 26 metros de altura e 9 de extensão tombaram sobre o leito carroçável.
Comprovação de ser esquisito quem não saber planejar adequada e inteligentemente um equipamento possível de ser um atrativo turístico, já na boca do gol para quem chega à cidade, ocupar um cargo de planejamento...
Se a obra foi pensada, os cálculos dimensionais, estruturais, de carga, dilatação, contração, capacidade de resistência dos materiais e, obviamente, as fundações de fixação deveriam contemplar o local: uma área aberta, em um trecho mais elevado de terreno, dentre outros detalhes normalmente previstos quando da concessão das ARTs - Anotações de Responsabilidade Técnica.
Ainda quando da instalação, a responsável discursou dizendo ser, aquela coisa, uma proposta de como “ler” o “pórtico”: “Para entender o significado a pessoa precisa viver Pindamonhangaba”. Logo ela, vinda de fora para se comissionar nessa gestão, dá uma explicação descabida.
Como já fizeram com o lindo monumento em aço tubular, representando o feito de João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, parece haver uma overdose de imponderações, arrogância e descaso com a sociedade civil.
Nada seria tão merecedor de crítica se o gestor desse atenção à fala da população e, não apenas, à sua vontade de não querer exercer o slogan de campanha.
Para o gestor, e seu time de incompetentes assessores, vale dizer “às favas a opinião pública”!
Enquanto assim for, nada de bom será.
Arrogância é mais ou menos assim: “Quando o nariz aponta para o céu, os pés estão à porta do inferno”, segundo o Pensador de Plantão.
Agora é o momento de os supostos fiscais do Executivo, denominados tecnicamente vereadores, proporem uma consulta para o público dizer se Wolverine terá outra chance. Ou não...
Sem desejar ser indiscreto, mas já o sendo: quem arcará com todos os custos de remontagem, caso permaneça a unilateralidade do desejo em vez de se consultar a opinião pública?
Chega de arrogância e mais sabedoria.
A humildade é a chave para o sucesso.
Escrevi e assino:
Marcos Ivan de Carvalho
Jornalista especializado em turismo, ME91207/SP
Publicitário ME6631/SP
Gestor de Turismo pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro /MTur /ME